A ERS-348, que liga Dona Francisca a Agudo foi severamente danificada em função das enchentes de maio de 2024. Diversos trechos do asfalto foram levados com a força da água, além das cabeceiras das pontes secas.
A reportagem do Jornal Cidades do Vale foi apurar em que situação se encontra a obra de reconstrução da via 13 meses depois do fato. O Governo do Estado anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão em obras de resiliência climática em estradas e pontes do Rio Grande do Sul afetadas pelas enchentes de 2024, entre elas a 348, mas até então, foram colocadas apenas placas de sinalização de obras, mas máquinas e canteiros de obra não existe no local. Para deslocamento, as pessoas usam o desvio de estrada de chão, como alternativa. Confira o que dizem as pessoas que são diretamente afetadas.
O que diz o Daer?
A reportagem do Jornal Cidades do Vale entrou em contato com o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer). Confira na íntegra as respostas recebidas na manhã de quinta-feira (12):
JCV - Qual a data de previsão das obras?
Daer - Início previsto para o 2º semestre de 2025.
JCV - Em relação ao projeto, quais as principais modificações comparado a via que foi levada com a enchente (Mais pontes?)?
Daer - A obra será por Regime de Contratação Integral (RCI), ou seja, a empresa será responsável pelo projeto e pela execução das obras. Neste momento está sendo desenvolvido o projeto, assim que for finalizado poderemos dar mais detalhes.
JCV - Haverá uma divisão nas empresas. Uma com pontes, outras com a via?
Daer - A contratação é de um consórcio de empresas. O Daer trata somente com a empresa líder.
JCV - Qual o prazo para finalização das obras?
Daer - A conclusão está prevista para 2026.
JCV - Qual o total da extensão da via que passará pela recuperação (Dona Francisca/Agudo especificamente)?
Daer - Todo o trecho.
JCV - Valor do investimento da obra?
Daer - O investimento previsto é de R$ 170 milhões.
JCV - Algo que seja necessário ser levado a conhecimento da população:
Daer - Neste momento, nada em específico.
O que diz o prefeito de Agudo, Luís Henrique Kittel?
O prefeito Luís Henrique Kittel salientou os prejuízos diretos que o município tem em função da destruição da via. “O município de Agudo foi diretamente afetado. Temos um comércio muito prestigiado pela região da Quarta Colônia, e agora o deslocamento via desvio acaba sendo um impeditivo para as pessoas virem, embora, atualmente ele esteja em total condições. Mas no começo, até pelo fato da estrada ter ficado abaixo da água, o reparo exigiu muito trabalho. Tivemos intervenção no Estado, no fechamento de um buraco maior que se formou. E esporadicamente a prefeitura de Dona Francisca também colaborou, mas o restante todo o trabalho foi feito via Agudo”.
Kittel destaca a importância da obra. “A obra de reparo é essencial, de importância regional. Não pode ser de interesse político nenhum e sim público. Até hoje, nunca fui procurado como prefeito pelo Estado, para conversar sobre a obra. O que teve sim, foi um convite em janeiro para assinatura dos lotes, e uma engenheira esteve aqui no gabinete, se apresentando como responsável pela obra. E me disse na oportunidade que buscava onde morar, e também acomodação para os funcionários da empresa, mas isso já tem mais de mês, e é isso que eu sei, sobre a reconstrução da ERS-348”, afirmou ele.
O que diz o Mauricio Barchet, presidente da Associação Comercial, Industrial de Agudo (Acisa)
O presidente da Acisa, Maurício Barchet, reforçou o que disse o prefeito Kittel, em relação ao comércio. “Fomos totalmente impactado, historicamente temos um comércio forte, que é referência na Quarta Colônia, e sem a ERS-348, o deslocamento fica mais difícil, as pessoas acabam não vindo, por medo de passar no desvio, embora a manutenção ocorre com frequência ali, mas tem gente que prefere não passar. Além disso, nós somos conhecidos por eventos, logo teremos a VolksFest, temos os jogos da AAGF, a gente sabia de pessoas que vinham dos municípios da região e hoje não vem mais. A obra é necessária, a gente aguarda, os comerciantes nos cobram, e adianto que não tendo movimentações mais concretas sobre o início dos trabalhos, também vamos nos organizar e nos mobilizar para chamar a atenção das autoridades”, disse ele.
Depoimento de quem usa o desvio:
Mônica Dall Asta - Diretora da Escola Luiz Germano em Agudo, moradora de Faxinal do Soturno, usa o desvio todos os dias
Mônica é faxinalense, e há sete anos trabalha em Agudo. Em entrevista a reportagem do Jornal Cidades do Vale, ela destacou as dificuldades no deslocamento sem a rodovia. “No começo, eu fazia a volta pelo Santuário, não dava para passar no desvio, depois conforme foram fazendo os reparos eu comecei a usar. Mas a gente percebe que temos mais gastos com manutenção do carro, por exemplo, além do tempo, tem que passar mais devagar. A gente que passa todos os dias constata que o movimento é grande, muitas pessoas precisam, então é uma obra urgente e muito necessária. Quando vi as placas de sinalizações, pensei agora vai, mas já faz mais de mês que foram colocadas e não vimos mais nenhum tipo de movimentação que remetesse a obras”, afirmou.
Natália Helena Sari - Servidora pública de Agudo
Natalia vive a mesma realidade de muitas pessoas, que usam o desvio todos os dias, pelo fato de morarem em um município e trabalharem em outro. Ela salienta, o que mudou na rotina depois que a via ficou totalmente danificada. “Fazia como a maioria no começo, vinha para Agudo via Santuário, RSC-287, mas depois com o desvio em melhores condições passei a vir por ali. Fazer a volta demanda de muito tempo, triplica a quilometragem, então é praticamente inviável para quem tem que fazer isso todos os dias. Precisei colocar uma proteção embaixo do meu carro, para evitar danos, e passo no desvio com muita cautela. A gente pode dizer que ele está em perfeitas condições, tem manutenção, mas tem que situações que fogem disso, os dias de chuva por exemplo, o terreno é baixo, tem lavouras dos dois lados, a água acumula e vai para a estrada, vira um caos em dias de chuva. Estou ansiosa pelo início das obras, que a gente sabe que precisará de muito trabalho, foram vários pontos afetados, entendo a morosidade do serviço público, mas penso, que é uma via importante na região, e precisa ser vista com mais atenção pelas aturidades”, disse ela.
Na busca por uma nova alternativa de renda e com o intuito de sair do comum, o avicultor Gustavo Santos Zanon, 43 anos, iniciou, em 2021, a criação de aves. Com sua propriedade localizada no Sítio dos Mellos, no interior de Faxinal do Soturno, Gustavo contou à reportagem do Jornal Cidades dos Vales que morava na cidade e que, com a pandemia, surgiu a ideia de se mudar. A partir daí, iniciou sua caminhada na criação de galinhas poedeiras soltas na Granja Dom Gentil.
Gustavo relatou que, durante a pandemia, a família sentiu a necessidade de ter mais espaço para a filha, Martina. “Meu sogro já morava aqui no sítio, e aí pensei junto com a minha esposa Bruna: estávamos trancados dentro de casa e queríamos que ela tivesse mais espaço. Foi então que decidimos construir aqui”, contou.
A criação de galinhas surgiu a partir de uma indignação de Gustavo. Segundo ele, ir aos mercados e não encontrar ovos da região gerava certo incômodo. “Nosso interior tem tanta coisa boa, e a gente consumindo ovos e outros produtos vindos de longe, muitas vezes com qualidade inferior ao que temos aqui. Foi aí que me despertou a vontade de começar a criação de galinhas para produção de ovos.”
Em 2021, ele deu início à produção. “Construímos o primeiro pavilhão, espaço onde elas ficariam. Meu sogro me ajudou muito. Comecei com 600 aves. Nunca tinha lidado com galinhas na minha vida, mas fui em busca de conhecimento. Tenho um Responsável Técnico que me ajuda bastante. E, claro, a internet também colabora. Assim, comecei, com coragem e muita vontade de fazer dar certo. Tinha gente que me chamava de louco no começo, perguntando onde eu ia vender tantos ovos.”
Gustavo conta que um projeto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi fundamental para o desenvolvimento da granja. “A presença deles veio de encontro às necessidades tanto minhas quanto deles. Os acadêmicos tinham aqui a prática, vivenciavam a realidade, e eu fazia a inspeção e a rotulagem dos ovos para comercialização na universidade. Ou seja, o entreposto era lá. Foram dois anos com eles. Depois, em 2023, fiz o meu próprio entreposto aqui”, afirma.
Segundo o avicultor, a rotina de trabalho exige envolvimento diário. “Parece fácil, mas a gente precisa estar sempre atento. De manhã, faço a coleta dos ovos. Elas ficam presas nesse período. À tarde, ficam soltas, e é quando faço as entregas. Mas estamos sempre monitorando. No verão, exige muito também, por conta do calor. Coloquei ventiladores para elas.”
Atualmente, Gustavo mantém 980 aves, divididas em dois pavilhões, com uma produção de 75 dúzias de ovos por dia, que são entregues aos estabelecimentos comerciais em Faxinal do Soturno. “É um número que considero ideal para garantir o bem-estar delas. Me preocupo para que estejam confortáveis no espaço. Meu gasto gira em torno de quatro mil quilos de ração por mês.”
A intenção da família é ampliar a produção. “Estamos caminhando com muita cautela. A intenção é aumentar a criação e a produção, mas há algumas regras. O que temos hoje nos limita a mil aves. Acima disso, muda um pouco, surgem mais exigências. Então, vamos evoluindo com muito cuidado. Estamos atentos à questão financeira também, mas acredito que, com o tempo, teremos mais criação”, afirma.
Por fim, Gustavo faz questão de destacar a riqueza dos produtos que os agricultores produzem no interior. “Acho tudo isso muito valioso, com muita qualidade. Por isso, acredito que o interior precisa ser mais valorizado. Os produtores precisam de orientação. Às vezes, parece muito burocrático, mas, com apoio, é mais fácil. Produzimos tantas coisas boas, e não são esses produtos que a gente encontra nos mercados. Isso precisa mudar. A diferença, por exemplo, entre os ovos colhidos de manhã e entregues à tarde e aqueles que vêm de longe, passando horas na estrada, muda muito no momento do consumo”, destaca.
Gripe aviária
O primeiro foco de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial no Brasil foi confirmado em Montenegro (RS) no dia 16 de maio. Na propriedade, cerca de 15.650 galinhas morreram, e outras 1.358 foram sacrificadas para conter o surto. A área foi isolada em um raio de 10 km, com instalação de barreiras sanitárias e desinfecção da granja.
Gustavo conta que a situação preocupa, mas acredita que as autoridades sanitárias estão empenhadas no combate. “Penso que é algo que nos faz redobrar os cuidados. Eu já tinha muito isso aqui, evito que pessoas de fora entrem, já tomava alguns cuidados, mas agora isso aumenta ainda mais. Trabalho muito com a prevenção. Pelo que tenho lido, o Estado e o país estão preparados para enfrentar a gripe aviária. Se não fosse isso, acho que teríamos uma situação bem pior”, ressalta.
A história da Liga Feminina de Combate ao Câncer, em Faxinal do Soturno, assim como em outros municípios do Rio Grande do Sul, é marcada pelo trabalho voluntário de mulheres que se unem para auxiliar pacientes com câncer e seus familiares. A Liga Feminina de Combate ao Câncer de Porto Alegre, a entidade-mãe, foi fundada em 1954, com o objetivo de apoiar o Hospital de Oncologia Santa Rita e, posteriormente, expandiu para diversos municípios do estado, como Faxinal do Soturno, que completa, em 2025, os seus 35 anos de história.
Uma das fundadoras e presidente por 26 anos, Silésia Pinheiro Vendrusculo (Sica), lembra como tudo começou. “Eu perdi um sobrinho que eu amava para o câncer, ele tinha 28 anos, e isso mexeu muito comigo. E, então, eu estive me aconselhando com o padre Francisco Bianchini, em Santa Maria, e ele me disse que o meu sobrinho queria se comunicar comigo. Eu fiquei muito atenta a partir dessa fala. Então, saí para meu outro compromisso, estava chovendo, e um senhor caminhava na minha frente. De repente, caiu um papel das mãos dele, eu ajuntei e vi escrito ‘Liga Feminina de Combate ao Câncer’, mas, até então, tudo certo. Eu dava aula, fui para o trabalho. E foi daí que os meus pensamentos começaram a mudar. Ao invés de focar nele, comecei a pensar na Liga. Então falei para minha colega — fazíamos um grande trabalho juntas na escola — e ela disse: ‘Vamos nos informar o que é a Liga.’ Procuramos em Santa Maria, e nos informaram que Porto Alegre era o local certo. Fomos para lá, a presidente da época nos recebeu, e fomos aprovadas. Um mês depois, a Liga estava instalada em Faxinal do Soturno”, contou ela.
Em relação ao dia a dia, a Sica destaca o trabalho que foi e é feito depois da fundação da Liga. “Somos um grupo de amigas que são apoio uma para a outra. A sede da Liga fica aberta nas segundas e quintas, mas o trabalho é diário, intermitente. A gente está sempre fazendo algo. O paciente, que é nosso assistido, traz o diagnóstico médico e precisa ser uma pessoa em vulnerabilidade social. A partir daí, ele passa a ser nosso assistido em ranchos, remédios. Mas, é claro, que para fazer esse trabalho nós precisamos de dinheiro, e, para isso, temos a nossa equipe maravilhosa, que trabalha na lojinha e que se empenha para que a gente tenha meio para nunca dizer não para um assistido”, contou.
Sica ressaltou a importância da colaboração da comunidade. “Precisamos do apoio da nossa população. A gente não pode se queixar, muitos nos ajudam, mas a gente precisa de permanente ajuda e valorização.”
A atual presidente da Liga, Silvia Dal Forno Osmari, já está na entidade há praticamente 35 anos. “Eu não sou fundadora, mas entrei logo após, pelo incentivo da Sica. Fazer esse trabalho, que é tão maravilhoso. Sabemos que tem muitas pessoas que precisam desse apoio, e a gente espera que o trabalho siga firme no seu propósito.”
Silvia, depois de um tempo na Liga, foi diagnosticada com câncer de mama e, de acordo com ela, esse episódio fortaleceu ainda mais a importância da entidade para as pessoas. “Só quem passa sabe, mas estar na Liga foi muito bom para mim, estar com as pessoas, para enfrentar o câncer. Atualmente, a gente tem uma realidade diferente. O câncer passou de ser um atestado de óbito, como já foi no passado. A medicina tem evoluído, os acessos aos tratamentos também.”
A presidente explica que a Liga vai além de apoio financeiro. “Claro que ter o que comer, remédios, é primordial, mas, às vezes, eles vêm aqui por um abraço, um carinho. É uma fase difícil. Como disse, eu já passei por isso, então a Liga também cumpre esse papel sensível de acolher quem procura a entidade, além de dinheiro. Inclusive, a gente faz visitas nas casas de quem não pode vir. É um momento de conversa, de convívio, que também ajuda.”
Um dos diferenciais da Liga, em Faxinal, é a sua sede própria. “São 87 Ligas no estado, e poucas têm a sua sede própria, inclusive em cidades bem maiores que a nossa. Essa foi uma grande conquista, que reflete diretamente nos nossos atendimentos. É um lugar onde a gente consegue acolher melhor quem precisa.”
A atual secretária da Liga, Rosane Leite Zanini, está na entidade há 8 anos e conta como foi a sua inserção. “Depois da aposentadoria na escola, eu pensei que precisava fazer alguma coisa útil, e foi por meio da minha irmã, Cleusa Rossato, que já fazia parte, que me incentivou a entrar. Viemos conhecer a lojinha um dia. Eu vim e me apaixonei pela causa.”
Um período marcante para Rosane foi o trabalho realizado durante a pandemia. “Era um momento difícil. As nossas voluntárias mais velhas precisavam ficar em casa, então nós abraçamos a causa. Um grupo pequeno, mas mantivemos a sede da Liga aberta. Seguimos fazendo o trabalho como deveríamos.”
Rosane explica que a Liga atende todas as faixas etárias. “Dentro dos critérios, atendemos a todos: homens, mulheres, crianças.”
De acordo com Rosane, um dos públicos mais difíceis de atender são os casos em crianças. “São os casos que mais me chocam. A gente tem, inclusive, uma em tratamento, mas precisamos nos segurar e buscar amparar. Aprendemos, em uma palestra, em Porto Alegre, que não temos que dizer ‘Ah, isso vai passar’. Não. Precisamos saber o que ele veio buscar, porque tem estágios que não têm mais volta, então a gente precisa apoiar com um abraço, com uma oração.”
Por fim, ela fala da motivação de realizar o trabalho voluntário na Liga. “Se doar é muito bom. A gente recebe de volta de alguma forma. São oito horas por semana, isso não é nada em uma vida, numa semana, no mês. Então, quanto mais a gente puder fazer por essas pessoas, mais a gente vai receber. É grandioso participar de tudo isso.”
Almoço de comemoração dos 35 anos
A Liga Feminina realizará no dia 8 de junho, o almoço em comemoração aos 35 anos da entidade. O evento será no Salão Paroquial do município, com início ao meio-dia.
Os ingressos custam R$ 60 para adultos e R$ 30 para crianças de até 10 anos e é importante que sejam adquiridos antecipadamente. O cardápio inclui risoto, galeto, bife à milanesa, maionese, saladas e o tradicional bufê de sobremesas. Interessados podem adquirir os ingressos pelo telefone ou WhatsApp (55) 99976-2116, com Silvia.
O dia 18 de maio marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Brasil. A campanha visa mobilizar, sensibilizar e informar a sociedade sobre a necessidade de proteger crianças e adolescentes contra qualquer forma de violência sexual, além de incentivar denúncias e fortalecer redes de proteção. A reportagem do Jornal Cidades do Vale procurou profissionais ligados diretamente com o assunto. Confira a entrevista na íntegra com o juiz da Comarca de Faxinal do Soturno, Rodrigo Antola Aita, com a psicóloga do Creas, Carine Michelon de Oliveira, e o assistente social, Rafael Almeida.
Juiz Rodrigo Aita destaca desafios e avanços no combate ao abuso sexual infantil
“Temos observado um crescimento no número de denúncias de crimes sexuais contra crianças e adolescentes. No entanto, isso não significa, necessariamente, que os casos estejam aumentando. Muitas vezes, o que cresce é a conscientização da população sobre a importância de não silenciar diante da violência”
JCV - O número de denúncias vem aumentando ou diminuindo nos últimos anos?
Juiz Rodrigo: Temos observado um crescimento no número de denúncias de crimes sexuais contra crianças e adolescentes. No entanto, isso não significa, necessariamente, que os casos estejam aumentando. Muitas vezes, o que cresce é a conscientização da população sobre a importância de não silenciar diante da violência. Campanhas como o Maio Laranja, programas escolares e o fortalecimento das redes de proteção têm contribuído para que mais vítimas, familiares e profissionais se sintam encorajados a denunciar. A Constituição Federal é clara ao afirmar que “a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual infantil” (art. 227, §4º), e é essencial que toda a sociedade se mobilize para dar efetividade a esse comando.
JCV - Quais são os maiores desafios que o sistema de Justiça enfrenta ao lidar com esses casos?
Juiz Rodrigo: Os desafios são muitos e exigem uma resposta articulada de diversas instituições. Em primeiro lugar, é necessário informar e educar a população sobre o problema, os sinais de alerta e os canais adequados de denúncia. Em segundo, é fundamental agir com rapidez para proteger a vítima, especialmente com a realização imediata do exame de corpo de delito e de outras providências que garantam a produção da prova. Em terceiro lugar, a escuta da criança ou adolescente precisa ocorrer de forma protegida e humanizada, por meio do depoimento especial — um procedimento previsto na Lei nº 13.431/2017, que evita a revitimização e busca preservar a integridade emocional da vítima. Por fim, o processo judicial precisa ser célere e eficiente, com uma resposta penal proporcional, de modo a evitar a impunidade e prevenir novos abusos.
JCV - O doutor acredita que as leis brasileiras são suficientes para proteger as crianças vítimas de abuso?
Juiz Rodrigo: Sim. A legislação brasileira é bastante avançada no enfrentamento à violência sexual infantil. Temos, por exemplo, a Lei nº 13.431/2017, que instituiu um sistema de garantia de direitos para crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, prevendo mecanismos como o depoimento especial. Há também leis específicas, como a chamada “Lei Henri Borel” (Lei nº 14.344/2022), além de alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal, que endureceram as penas e estabeleceram tramitação prioritária para esses casos. O desafio maior está em garantir a efetiva aplicação dessas normas: é preciso investir em capacitação, estrutura física, profissionais...
JCV - Em cidades pequenas, há dificuldades específicas para garantir o sigilo e a proteção das vítimas?
Juiz Rodrigo: Sim, há desafios particulares em municípios menores. A legislação determina o segredo de justiça em processos que envolvem crimes sexuais, especialmente quando as vítimas são crianças ou adolescentes. Contudo, em cidades pequenas, em que as relações são próximas e as pessoas compartilham os mesmos espaços, é mais difícil manter o sigilo informal. Muitas vezes, informações circulam entre vizinhos ou familiares, o que pode expor a vítima e comprometer seu bem-estar emocional. Por isso, é ainda mais importante que todos os profissionais envolvidos — autoridades, escolas, serviços de saúde, familiares — atuem com máxima responsabilidade e discrição, evitando qualquer tipo de exposição indevida.
JCV - Quanto tempo, em média, leva um processo judicial envolvendo abuso infantil até uma decisão final?
Juiz Rodrigo: É difícil estabelecer uma média de tempo, porque cada caso possui suas especificidades. Aspectos como a necessidade de perícias, avaliações psicológicas, número de testemunhas e complexidade dos fatos influenciam diretamente na duração do processo. No entanto, na Comarca de Faxinal do Soturno, temos trabalhado com absoluta prioridade nesses casos, conforme prevê a lei. Nossa meta é garantir a tramitação mais célere possível, sem prejuízo à qualidade da apuração. Vale destacar também que, em muitos casos, o relato da violência só vem à tona muitos anos depois do ocorrido, o que naturalmente impacta o tempo total entre o fato e a sentença. Ainda assim, é dever do sistema de Justiça manter o foco na proteção da vítima e na responsabilização dos agressores.
JCV - O silêncio e o medo ainda são barreiras para que os abusos sejam denunciados? Como lidar com isso?
Juiz Rodrigo: Infelizmente, sim. O medo do agressor, que muitas vezes é alguém próximo ou até mesmo integrante da família, é uma barreira significativa. Soma-se a isso o sentimento de culpa ou vergonha que, por vezes, é indevidamente imposto à vítima. A criança ou adolescente pode temer não ser acreditada, sofrer represálias ou desestabilizar o ambiente familiar. Por isso, é essencial que se crie uma cultura de acolhimento e escuta. Pais, responsáveis, professores e profissionais da saúde devem estar atentos a sinais sutis e oferecer um espaço seguro para que a criança fale. Não se deve jamais culpabilizar a vítima, mas sim garantir que ela se sinta protegida e amparada ao relatar o que vivenciou.
JCV - Como a população pode colaborar com a prevenção e combate ao abuso infantil?
Juiz Rodrigo: A principal forma de colaboração da população é o conhecimento. Informar-se sobre o tema, participar de campanhas de conscientização, como o Maio Laranja, e, sobretudo, manter um diálogo aberto e acolhedor com as crianças e adolescentes. É importante que eles saibam que podem contar o que sentem e o que vivenciam, sem medo de punições ou julgamentos. Outro ponto essencial é a vigilância responsável: ao notar comportamentos suspeitos ou mudanças bruscas no comportamento de uma criança, deve-se procurar ajuda e comunicar às autoridades. O Disque 100 é um canal gratuito, sigiloso e acessível para denúncias. Também é possível acionar a Polícia Civil, Brigada Militar ou o Conselho Tutelar.
JCV - Algo que queira acrescentar?
Juiz Rodrigo: Gostaria de enfatizar a importância da união de esforços. O combate à violência sexual contra crianças e adolescentes não é responsabilidade apenas da Justiça ou da polícia — é um dever de toda a sociedade. Campanhas como o Maio Laranja têm justamente esse objetivo: mobilizar a comunidade para proteger quem é mais vulnerável. É fundamental que órgãos públicos, escolas, entidades sociais e famílias atuem em conjunto. E, claro, que se tenha a sensibilidade de que, tão importante quanto responsabilizar um agressor, é evitar que se cometa uma injustiça com alguém inocente. Por isso, é essencial agir com responsabilidade, denunciar às autoridades competentes e confiar nos instrumentos legais de investigação e julgamento.
Psicóloga Carine M. de Oliveira explica sinais, impactos e desafios no atendimento a crianças vítimas de abuso
“Reconhecer os sinais de abuso em uma criança exige muita atenção e cuidado, porque esses sinais nem sempre são claros. No entanto, alguns desses sinais emocionais podem ser de a criança ficar muito ansiosa, com medo exagerado, especialmente de adultos ou de certas situações, além de momentos de tristeza com maior frequência ou ter dificuldade de dizer o que está sentindo”.
JCV - Quais são os principais sinais emocionais e comportamentais que podem indicar que uma criança está sendo vítima de abuso?
Carine: Essa é uma pergunta muito importante. Reconhecer os sinais de abuso em uma criança exige muita atenção e cuidado, porque esses sinais nem sempre são claros. No entanto, alguns desses sinais emocionais podem ser de a criança ficar muito ansiosa, com medo exagerado, especialmente de adultos ou de certas situações, além de momentos de tristeza com maior frequência ou ter dificuldade de dizer o que está sentindo. Como ela não consegue expressar isso com palavras, às vezes acaba ficando mais agressiva, mudando de humor de forma repentina ou se isolando. Nos sintomas comportamentais, o corpo da criança também pode mostrar que algo não vai bem. Muitas vezes, ela demonstra o que está vivendo através de desenhos, brincadeiras com conteúdo sexual que não combinam com a sua idade. Também é comum ter dificuldades para dormir, voltar a fazer xixi na cama (mesmo já tendo passado dessa fase) ou apresentar machucados sem explicação, dores frequentes ou infecções, especialmente nas partes íntimas. Outro sinal importante é quando a criança começa a usar palavras com conteúdo sexual ou perde o interesse pelos estudos de forma repentina. É essencial que os adultos que convivem com essa criança, sejam pais, professores ou cuidadores, fiquem atentos a essas mudanças. Ninguém conhece melhor uma criança do que quem está com ela no dia a dia. Se surgir qualquer suspeita, o mais importante é ouvir com carinho, sem julgar, e buscar ajuda profissional o quanto antes. O cuidado e a proteção da criança devem estar sempre em primeiro lugar.
JCV - Como o abuso infantil impacta o desenvolvimento psicológico da criança a curto e longo prazo?
Carine: O impacto do abuso sexual infantil no desenvolvimento psicológico da criança pode ser diverso e poderá também durar a vida toda, se não houver ajuda adequada. Os sintomas emocionais e físicos afetam a forma como a criança se relaciona com o mundo, a construção da sua identidade e seus vínculos afetivos. Isso também pode interferir no desempenho escolar e na autoestima dela. Em casos mais graves, a criança pode até ter pensamentos suicidas ou recorrer à automutilação. A intervenção o quanto antes é essencial para minimizar esses danos.
JCV - Como abordar esse tema com a criança de maneira sensível?
Carine: Sem dúvida, é um grande desafio, mas é extremamente necessário. O mais importante é tratar o tema de forma leve, usando uma linguagem que a criança consiga entender. Um ponto fundamental é ensiná-la que o corpo dela é só dela e que existem partes do corpo que ninguém pode tocar, exceto em algumas situações específicas, como em consultas médicas ou banhos, mas sempre com a presença de um responsável e sem causar desconforto. Usar materiais lúdicos, como desenhos ou bonecos, é muito eficaz, pois ajuda a criança a entender de maneira mais acessível o que está sendo explicado. Também é importante ensinar os nomes corretos das partes do corpo, de acordo com o vocabulário dela, para que ela saiba se expressar caso precise contar algo. A palavra "desconforto" é fundamental para que a criança saiba o que fazer, caso sinta algo de errado, e possa comunicar isso aos responsáveis, sem medo ou culpa. Esse tipo de conversa não deve acontecer apenas uma vez ao ano, como em campanhas como a do Maio Laranja, mas deve ser contínua, de forma que a criança sempre se sinta confortável para falar sobre qualquer situação que a incomode.
JCV - Quais são os desafios mais comuns enfrentados pelos psicólogos ao trabalhar com crianças vítimas de abuso?
Carine: Um dos maiores desafios é ganhar a confiança da criança, pois ela teve sua confiança quebrada por alguém que deveria tê-la protegido. Muitas vezes, a criança chega muito assustada, sem conseguir se expressar em palavras, cheia de medo e desconfiança. Outro ponto difícil é lidar com o ambiente familiar. Em alguns casos, a própria família não acredita na criança, seja por medo, vergonha ou negação, principalmente quando o agressor é alguém muito próximo, que deveria ser um protetor. Mesmo com esses desafios, é fundamental mostrar para a criança que ela não está sozinha, que a dor dela é importante. É um processo que exige muita paciência e empatia.
Assistente Social Rafael Almeida fala sobre proteção infantil
A prevenção passa pelo fortalecimento das famílias. A gente atua orientando, escutando, apoiando em momentos de crise e, principalmente, garantindo acesso a direitos. Famílias em situação de pobreza extrema, violência doméstica ou uso abusivo de substâncias, por exemplo, precisam de apoio, não de julgamento”.
JCV - Qual é o papel do assistente social na identificação e encaminhamento de casos de abuso infantil?
Rafael: O assistente social atua como um elo entre a criança, a família e os serviços de proteção. Nosso papel é acolher com respeito, ouvir com sensibilidade e encaminhar o caso para os órgãos competentes, como o Conselho Tutelar e serviços especializados. Mas, mais do que isso, buscamos garantir que essa criança seja protegida e que seus direitos sejam respeitados em todas as etapas do processo.
JCV - Como funciona a rede de proteção à criança e ao adolescente em situações de violência?
Rafael: A rede de proteção é um conjunto de instituições, como escolas, unidades de saúde, CRAS, CREAS, Conselho Tutelar e Ministério Público, que trabalham juntas para garantir a segurança e o bem-estar da criança. Cada setor tem sua responsabilidade, e o mais importante é que haja comunicação entre todos. Quando um caso é identificado, ele deve ser acolhido e acompanhado por essa rede, que atua de forma articulada, colocando sempre a criança no centro das intervenções.
JCV - Como o assistente social pode atuar junto às famílias para prevenir situações de vulnerabilidade que podem levar ao abuso?
Rafael: A prevenção passa pelo fortalecimento das famílias. A gente atua orientando, escutando, apoiando em momentos de crise e, principalmente, garantindo acesso a direitos. Famílias em situação de pobreza extrema, violência doméstica ou uso abusivo de substâncias, por exemplo, precisam de apoio, não de julgamento. Trabalhamos para criar laços de confiança, estimular vínculos afetivos saudáveis e evitar que situações de risco se agravem. O cuidado com as famílias é o primeiro passo para cuidar das crianças.
JCV - Quais políticas públicas são essenciais para o enfrentamento efetivo do abuso infantil?
Rafael: Políticas que garantam proteção, cuidado e dignidade. O SUAS (Sistema Único de Assistência Social), o SUS (Sistema Único de Saúde), educação, através de escola pública de qualidade, os Conselhos Tutelares e os programas de transferência de renda são fundamentais. Além disso, precisamos de campanhas permanentes de conscientização e de investimentos em formação de profissionais. Combater o abuso não é responsabilidade de um setor só, é um compromisso coletivo, que depende de ação integrada.
JCV - De que forma o trabalho conjunto entre saúde, educação e assistência social fortalece a proteção da criança?
Rafael: Quando esses três setores se unem, a criança é vista por completo. A saúde cuida do corpo e da mente, a educação observa o comportamento e o aprendizado, e a assistência social atua nas relações familiares e comunitárias. Um professor atento, um agente de saúde sensível e um assistente social presente podem mudar a trajetória de uma criança. O trabalho intersetorial garante que nenhum sinal passe despercebido e que as intervenções sejam mais eficazes e humanizadas.
A prática regular de exercícios físicos é uma das principais aliadas para um envelhecimento saudável. Na terceira idade, manter o corpo em movimento traz benefícios que vão muito além da estética ou do condicionamento físico: significa preservar a autonomia, prevenir doenças, primar pela convivência social, garantia da auto-estima e uma melhor qualidade de vida.
Segundo especialistas, atividades como caminhadas, alongamentos, musculação, hidroginástica ou dança são indicadas para pessoas idosas e podem ser adaptadas conforme as condições de cada um. Além de melhorar a força muscular e o equilíbrio, o que reduz consideravelmente o risco de quedas, os exercícios também ajudam no controle de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e osteoporose, alzheimer, depressão, doenças auto-imune
A academia Cia do Movimento, de Faxinal do Soturno, atua há 25 anos na cidade. Segundo o proprietário e professor de educação física, Jorge Pellenz, nos últimos tempos tem sido registrado um aumento considerável da presença de idosos na academia, fortalecendo na hidroginástica e descobrindo a musculação.
A academia também conta com um espaço para hidroginástica, atividade bastante procurada. “Recebemos grupos de Nova Palma, Dona Francisca, Ivorá e Faxinal do Soturno. Todos os dias temos atividades na piscina. Um dos principais atrativos da prática na água é a redução do impacto nas articulações. Como o corpo fica mais leve dentro da piscina, os movimentos são realizados com mais facilidade e menos dor, o que é ideal para quem convive com artrite, artrose ou problemas de mobilidade. Além de proporcionar momentos de lazer e socialização, essas atividades aquáticas oferecem uma série de benefícios à saúde física e mental dos idosos”, explica Jorge.
A coordenadora do grupo da terceira idade de Nova Palma, Miriam Stephanie, comenta que a hidroginástica tem transformado a vida dos participantes. “Em Nova Palma, tem fila de pessoas querendo vir, mas a gente organiza conforme a recomendação médica. Aqui é muito bom, eu fico feliz de fazer e de ouvir minhas colegas dizendo que a aula foi boa, que a saúde melhorou muito desde que começaram. Os nossos professores também são bem animados, o tempo voa quando estamos aqui. É muito bom”, conta.
Miriam também destaca a importância da convivência promovida pelas aulas. “Além dos benefícios dos exercícios, essa troca, esse convívio traz inúmeros ganhos. A gente ri, se uma chega no ônibus mais tristinha, a gente já anima. Nos divertimos muito, conversamos. Somos uma família, na verdade. Cada dia que venho para cá é um dia feliz.”
Por fim, Jorge ressalta que, além dos grupos organizados, a academia possui horários disponíveis para demais interessados. “A academia está aberta. Buscamos organizar um treino de acordo com as limitações de cada pessoa, sempre seguindo as recomendações médicas. E ressalto: o exercício é muito importante para uma velhice saudável”, conclui.
Para algumas mães, o Dia das Mães não é feito de flores, mas de silêncio. É o dia em que o amor permanece, mas o colo fica vazio. Quando a ordem natural da vida se inverte e o filho parte antes da mãe, o mundo parece perder o compasso. Ainda assim, essas mães seguem sendo mães com um amor que não tem fim, mesmo que a presença física tenha cessado.
É isso que tem vivido a mãe, Morgana Curcino. A sua filha Ashley faleceu no dia 29/02/2024 aos 22 anos de idade, menos de um mês depois de passar por transplante de medula óssea, do qual Morgana foi doadora. Ela vinha lutando contra infecções desde fevereiro de 2022, mas somente em novembro de 2023 recebeu o diagnóstico de uma doença genética rara. Menos de quatro meses após o diagnóstico ela faleceu.
A reportagem do Jornal Cidades do Vale entrevistou Morgana. Confira na íntegra o sentimento, e como tem sido esses momentos difíceis na vida dela:
JCV - Quais são as lembranças mais bonitas que você guarda dela?
Morgana: Guardo a lembrança de uma filha muito amorosa, carinhosa, muito presente. Ela era muito ligada a nós. Não saía sozinha, sempre conosco. Uma menina simples, muito forte, resiliente, de muita luz, com muita força, fé e serenidade. Muito dedicada aos estudos, muito educada e dócil com todos que convivia.
JCV - Como você tem se sentido ultimamente?
Morgana: Perder um filho é a maior dor do mundo! Mas eu não perdi minha filha, eu a ganhei por 22 anos! Por 22 anos Deus me emprestou uma filha maravilhosa! Sinto muita saudade dela todos os dias, a cada segundo do meu dia. Estou em busca do meu autoconhecimento, porque depois que uma mãe devolve um filho para Deus, ela não se reconhece mais, ela precisa se reencontrar com ela mesma. Estou vivendo um dia de cada vez. Alguns dias com muita paz, outros dias com muita dor.
JCV - O que tem te ajudado a seguir em frente nos dias mais difíceis?
Morgana: Deus, a espiritualidade, meus outros dois filhos e ela, minha doce filha. Dois meses após a partida dela eu comecei a trabalhar e isso também tem me ajudado muito a me manter em pé. Também faço terapia.
JCV - Tem algo que você gostaria que as pessoas entendessem melhor sobre a sua dor?
Morgana: Sim. Quem perde os pais é órfão. Quem perde o companheiro (a) é viúva (o). Mas quem perde um filho, é o que? Não existe nome, é uma dor sem nome. Gostaria que a sociedade compreendesse que não existe superação para a morte de um filho. Existe um recomeço, mas superação, não. Não tem como superar a partida de um filho. Você supera uma separação, a perda de um emprego, de algo material. Mas a morte de um filho não. Gostaria muito que as pessoas aprendessem a respeitar a dor de uma mãe e de um pai e que não os julgassem.
JCV - Como você gostaria que sua filha seja lembrada?
Morgana: Quero que ela seja lembrada como uma menina resiliente, forte, determinada, dócil, educada. Minha filha enfrentou a doença dela de cabeça erguida, estudou doente, fez o Enem durante o tratamento, debilitada. No último Enem dela, faltou apenas 50 pontos para a aprovação em Medicina que ela tanto sonhava. Que os jovens possam se espelhar na força e determinação que ela tinha, que mesmo em meio a tantas dificuldades nunca deixou de lutar e de acreditar na cura dela.
JCV -O que mudou na sua forma de ver a vida depois da partida da sua filha?
Morgana: Aprendi que estamos aqui só de passagem e que nada aqui é nosso, tudo nos é emprestado. Bens materiais não possuem valor algum, são só coisas que nos são emprestadas para usufruirmos enquanto estivermos aqui. Aprendi que devemos auxiliar quem precisa e que sempre terá alguém do nosso lado precisando de ajuda, seja de um abraço, seja de uma peça de roupa ou de um alimento. Hoje tenho consciência de que a minha vida não será mais a mesma e de que meu sorriso não terá mais a mesma alegria, porque falta um pedaço meu aqui. Depois de um acontecimento desses não tem mais como ser 100% feliz, mas 60% eu acredito que dê e eu vou em busca disso. Hoje estou me permitindo viver intensamente o meu luto, acredito que não podemos pular isso.
JCV - Quais foram os momentos mais difíceis desse processo de luto?
Morgana: O dia da despedida e o dia a dia. A ausência física dela no dia a dia dói demais. O acordar pela manhã é muito difícil, sair da cama e enfrentar o dia sem ela. Chegar em casa à tardinha e não a encontrar é sempre muito difícil. As datas comemorativas também são parte muito difícil neste processo.
JCV - Você encontrou apoio em alguma rede, grupo ou espiritualidade?
Morgana: Sim. Assim que tudo aconteceu, busquei ajuda psicológica e faço acompanhamento até hoje. Também comecei a participar de grupos de mães enlutadas, onde todas compartilham suas histórias e experiências. Comecei a ler muitos livros de autoajuda e livros espíritas. Passei a frequentar as missas. Busco inspiração em outras mães que já passaram por isso. Converso muito com outras mães enlutadas. Me inspiro muito na Cissa Guimarães e na Ana Carolina Oliveira (mãe da Isabela Nardoni).
JCV - Como tem sido manter viva a memória dela no dia a dia?
Morgana: Eu faço questão. Sempre gostei muito de fotografia, sempre tive fotos dos meus filhos pela casa, sempre gostei de registrar todos os momentos deles e depois que tudo aconteceu espalhei mais fotos pela casa. Também sempre gostei muito de postar nas redes sociais e de escrever e isso se intensificou com a partida dela. Através das redes sociais consigo expressar a minha dor e manter a memória dela viva. Penso em quem sabe um dia, escrever um livro sobre ela e que possa servir para acalentar os corações de outras mães.
JCV - Como é para você seguir sendo mãe todos os dias, dividindo o luto com o amor e os cuidados pelos outros filhos?
Morgana: É difícil explicar... Ser mãe todos os dias depois da perda é como aprender a viver com uma parte de mim faltando, é um exercício constante de amor e força. É um grande desafio, um desafio diário, porque a gente fica tão focada na nossa dor, naquela ausência do filho que partiu, que corremos o risco de acabar deixando os outros filhos de lado. Eu sempre dividi essa preocupação com a minha psicóloga, esse medo de acabar negligenciando o meu papel de mãe com os meus outros filhos. O luto está sempre ali, às vezes ele me engole, outras vezes ele só me acompanha. Ao mesmo tempo, meus filhos que estão aqui me puxam para a vida, eles são luz e motivo para continuar. Eles precisam de mim, e eu preciso deles. Cuidar deles, vê-los crescer, rir e sonhar, me lembra que o amor é maior que a dor. O amor que sinto por eles me dá forças, mesmo nos dias em que tudo parece pesado demais. Eu aprendi que posso sentir saudade e amor ao mesmo tempo. Posso chorar por quem se foi e sorrir por quem está aqui. E é assim que eu sigo: um dia de cada vez, tentando ser a melhor mãe que consigo ser, mesmo com o coração em pedaços. É difícil, mas também é uma forma de honrar quem partiu e valorizar intensamente quem está comigo.
JCV - Algo que tu queira acrescentar:
Morgana: A vida aqui é uma passagem, é muito rápida e nos pega de surpresa muitas vezes. A gente nunca pensa que as coisas vão acontecer com a gente. Eu nunca imaginei que um dia Deus me pediria um dos meus filhos de volta. Se você tem algo para resolver com alguém, resolva enquanto ainda há tempo, peça desculpas, abrace, diga que ama. Minha filha sabia o quanto eu a amava. Ela foi embora sabendo disso, sabendo que eu sempre fiz tudo e faria muito mais. Vivemos sempre numa correria, como se não fossemos morrer um dia e esquecemos do quão preciosa a vida é. A minha filha queria muito viver, lutou muito até o último segundo. Tinha sonhos e planos para ela e para nós. Eu aprendi muito com ela e tenho certeza do nosso reencontro. Enquanto esse dia não chega, eu vou seguir minha caminhada honrando a memória dela.
A mamãe de Agudo, Roberta Schmengler, 24 anos, viveu o primeiro Dia das Mães, ao lado do pequeno Gonçalo Schmengler Franke, com 14 dias de vida nesta segunda -feira (12). Roberta, a Beta, é filha da Márcia Schmengler, irmã da Amanda, e viveu a experiência de ser mãe. Em entrevista à reportagem, ela contou que sempre quis ter um filho. “Falava para a minha mãe que meu sonho era ter minha família. Esse era um pensamento meu. Muitos pensam em adquirir bens materiais, mas eu sempre tive esse desejo de ter meu filho. Claro, não foi planejado, mas aconteceu, e, desde o primeiro dia, ele foi muito amado”, relatou.
Roberta e Felipe Franke, o pai do Gonçalo, lembram como foi a descoberta da gravidez. “A Roberta começou a sentir uns sintomas: muito sono, uns desejos estranhos, tipo comer doce com salgado. Eu fiquei observando e pensei: isso aí não está normal. Aí conversamos e, no domingo, dia 8 de setembro de 2024, ela fez o teste. Isso está muito vivo na minha memória, foi à noite. Eu fiquei no quarto, e ela veio. Até pensou em fazer surpresa, mas não conseguiu. Chegou e disse que tinha dado positivo. Não tivemos reação, só rimos, e, a partir daí, começou um misto de sentimentos”, contou Felipe.
Após o positivo no teste de farmácia, Roberta contou que fez o exame de sangue para ter certeza. “Os testes de farmácia estão cada vez mais certeiros, mas, claro, a gente fez o de sangue, e confirmou. Então, fui procurar os médicos, fazer os exames, o pré-natal, acompanhar o desenvolvimento do bebê. Até então não sabíamos o sexo, mas sempre tive a convicção de que era um menino. O Felipe achava que era menina, mas, no fim, veio o Gonçalo.”
Roberta relatou que o período da gravidez foi tranquilo. “Sentia só muita dor de cabeça e azia. Foi isso que mais senti. De resto, parecia tudo normal. Claro, fui sentindo com o tempo a mudança no corpo, a barriga crescendo. Mas posso dizer que, comparado com outras mamães, foi bem tranquilo. No final, sim, fiquei bastante inchada, mas isso faz parte”, disse ela.
Em relação ao parto, Beta disse que já havia decidido que seria cesárea. “Isso ficou definido desde o começo. Procuramos um plano de saúde e já organizamos tudo. Queria ganhar em Agudo, mas infelizmente não fechou a equipe. Então, ele nasceu no Hospital de Caridade São Roque, em Faxinal do Soturno, onde fomos bem tratados, com um atendimento diferenciado. Não estava nervosa, até chegar no bloco cirúrgico. Inclusive, minha pressão subiu muito, mas depois, com medicação, deu tudo certo. E às 8h34 do dia 28 de abril, o Gonçalo veio ao mundo com 3.640g e 49cm”, lembrou ela.
A chegada de Gonçalo, de acordo com a mãe Roberta, foi emocionante. “Foi muito natural. Pedi para colocar uma música, a equipe que me atendeu me passou muita tranquilidade, e o Felipe esteve ao meu lado o tempo todo. Fiquei consciente, e, quando ouvi o choro dele, pensei: agora eu sou mãe. É um sentimento inexplicável. A gente sente muita coisa ao mesmo tempo, felicidade, medo. Eu estava na expectativa de ver ele. É um momento que eu nunca vou esquecer. Foi então que levaram ele, fizeram o que era necessário, e logo depois o Felipe me trouxe ele. Então, o meu filho estava comigo. O nosso primeiro contato foi lindo.”
Gonçalo tem 11 dias de vida, completados nesta sexta-feira, e, nesse tempo, os papais relatam os desafios e o sentimento de estar com ele. “Claro, não é simples. É tudo novo, a gente se preocupa, quer cuidar, mas estamos vivendo os nossos melhores 11 dias da vida. Tudo compensa quando olhamos para ele. Estamos recebendo muito carinho de familiares, amigos. Esse apoio também é importante. Vamos aprendendo todos os dias com cada descoberta. É uma fase desafiadora, mas de muito amor”, disse Felipe.
Por fim, Roberta ressalta a importância de escolher um pai parceiro. “O Felipe é um paizão. Ele sempre gostou de criança, como eu. Então, ele tem feito tudo: dá banho, troca, faz comida, limpa a casa. Enfim, é um momento de muita cumplicidade entre nós também. Porque eu venho de uma cesárea e mesmo estando tudo bem, fico um pouco limitada e ele comigo me dá mais segurança. Sabemos que tem muita coisa pela frente, mas vamos sempre fazer o melhor pelo nosso filho”, concluiu.
Um acidente com ônibus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ocorrido na sexta-feira (4), em Imigrante, no Vale do Taquari, vitimou sete pessoas, entre elas, a bancária Flavia Marcuzzo Dotto, 44 anos, de Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine. Na sexta-feira, Flavia viajava no ônibus do Colégio Politécnico como aluna do curso de Paisagismo.
A prima segunda e comadre, Jussara Maria Bortoluzzi, disse à reportagem do Jornal Cidades do Vale que o momento é muito difícil. “Nós éramos comadres, amigas, confidentes, uma irmã, pois só tínhamos irmãos homens, então tínhamos essa cumplicidade de irmãs mesmo”, contou ela.
Questionada como era a Flavia no dia a dia, Jussara a descreve como sendo um ser de luz. “A Flávia era luz, uma fortaleza, mesmo quando parecia estar fragilizada. Era muito bom estar perto da Flavia e amar a Flávia. Como me disse o irmão dela depois que recebemos a trágica notícia: ‘Ju, quem amou, amou’, porque quem a conheceu não tinha como não amá-la. Onde ela chegava, brilhava, contagiava com seu sorriso, que era lindo. Ela era linda, alegre, essa era a Flavia. Sempre de bem com a vida, contagiando quem estava ao redor. E guerreira perante a criação de seus filhos e cuidando dos familiares. Que ela cumpriu a missão dela brilhantemente”.
A comadre conta que a relação era de muitos encontros. “Tínhamos relação de irmãs, de se falar e se ver para o mate, ou o vinho, ou um espumante, sempre que dava, mas principalmente o mate. Ela amava seu chimarrão. Quando íamos para algum lugar, ela sempre dizia: ‘Eu levo o mate, comadre’. Morávamos próximas em Santa Maria e também de nossos pais em Vale Vêneto. E também de viagens, fizemos várias viagens juntas, e, de novo, a Flavia era nossa guia: fazia o roteiro, nossa historiadora (comprava livros dos lugares que íamos visitar para sabermos a história antes), organizava tudo, comprava as passagens, os tickets de trem, metrô, reserva de hotéis, tudo organizado. Ela amava viajar. E eu conheci todos os lugares que sonhei conhecer porque ela se empenhou em organizar. Eu só embarquei e fui, e por isso sou eternamente grata”, relembra Jussara.
Jussara conta que conhecia Flavia desde criança. “A gente se conhecia desde criança, porque quando eu estudava, tinha meus dez, onze anos, eu parava na casa da avó dela, em Vale Vêneto, porque era mais perto do colégio para estudar. Então, o avô dela era irmão da minha avó, então eu parava para estudar. Ela era uma bebê, e eu conhecia a Flávia. A Flavinha era linda, era uma boneca. A gente foi crescendo e, no final de semana, sempre no Vale, ela vinha, e eu ficava esperando para a gente brincar. Na faculdade, cursamos o mesmo curso, eu antes e ela depois, Ciências Contábeis, na Universidade Federal de Santa Maria. Ela casou e veio a família dela, e eu fui dinda, e veio crescendo assim até sexta passada. Essa amizade, essa cumplicidade de viagens... então a gente se conheceu muito criança ainda, antes dos meus 10 anos. A nossa diferença de idade é de cinco anos, ela 44, eu 49.”
Em relação ao sonho de Flavia, Jussara conta que era construir uma casa em Vale Vêneto. “Ela queria morar em Vale Vêneto. Como ela dizia: ‘Minha tranquilidade, minha paz, meu chimarrão, na minha casa, no meu canto, em Vale Vêneto.’ Esse era o sonho dela, recente assim, e acho que ela já estava quase concretizando. Ela estava vendo já local, projeto, então era um sonho já muito palpável na vida dela. Também fazer a faculdade de Paisagismo. Ela me contou uma semana antes que ela ia fazer alguma coisa por ela, que ela gostava, que era a faculdade de Paisagismo, que ela iria iniciar em março, final de março, e estava empolgadíssima, já tinha comprado um livro de plantas, porque ela amava plantas. E então esse era o sonho recente que ela estava realizando: o da faculdade e o da casa em Vale Vêneto.”
Jussara diz que tem sido difícil aceitar o que aconteceu. “É como um pesadelo. A gente tenta aceitar, por ela, mas ainda é difícil. Ela tinha uma presença tão forte, tão cheia de luz, que parece que, a qualquer momento, vai voltar. Mesmo depois de termos nos despedido, ainda espero ouvir sua voz: ‘Oi, comadre! Vai passar aqui hoje?’ A ausência dela ainda não foi assimilada. A dor é grande, constante, e todos sentimos isso. Esperamos que, com o tempo, essa dor vire saudade. Mas, por enquanto, parece que ela ainda está por aqui, e que a qualquer instante vai aparecer com aquele jeitinho doce e meigo de sempre.”
A notícia do falecimento de Flavia chegou a Jussara por meio do irmão dela, que atua junto com ela na Prefeitura de Polêsine. “Quis o destino que ele estivesse perto de mim nesse momento. Almoçamos juntos, ele foi ao banheiro e voltou branco, e não conseguia se expressar. Quando me mostrou o acidente no celular, eu não estava entendendo, e ele me disse: ‘A Flávia estava nesse ônibus.’ Eu até então não sabia que ela tinha viajado. E, a partir daí, começamos a ligar e ficamos sem informações. Sabíamos que ela tinha ido na viagem, mas a universidade não confirmava nada. O irmão ligava para o celular dela e ninguém atendia. Então foi uma tarde de desespero. Passado das 18h, recebemos a confirmação do falecimento”, contou.
Colegas do banco de Faxinal do Soturno lembram com muito carinho da Flavia.
Flavia Marcuzzo Dotto iniciou sua trajetória no Banrisul em 14/12/2009, na Agência Baltazar Garcia, em Porto Alegre. Visando conciliar a sua atividade profissional com a vida pessoal, transferiu-se para a Agência de Faxinal do Soturno em 1º/03/2012. Em pouco tempo, sua competência ficou evidenciada. No mesmo ano, foi selecionada para desempenhar uma função especializada junto à Plataforma da Pessoa Jurídica de Grandes Empresas na Superintendência Fronteira, em Santa Maria, onde ficou por aproximadamente seis anos. Sempre na busca de novos desafios, transferiu-se para o atendimento da pessoa física em 2018. Pelo notável desempenho, em 2021, foi selecionada para a função de Operadora de Negócios da pessoa física, retornando para a Agência Faxinal do Soturno como responsável pelo gerenciamento de uma carteira de 650 clientes. Em 07/2022, retornou para a AG Medianeira, em Santa Maria, no desempenho da mesma função.
Marcos Cezar Roggia Ragagnin e Sandra Streppel:
“O que falar da nossa amada colega e amiga Flavia Marcuzzo Dotto? Nem todas as palavras do mundo seriam suficientes para expressar o quanto ela era especial, fora da curva, extraordinária. Só de tocar no teu nome, a voz já embarga e o peito aperta. Viveu uma vida pessoal e profissional plena, buscava descansar principalmente aos finais de semana em Vale Vêneto, onde recebia amigos e compartilhava bons momentos junto à família. Estava em um momento muito feliz da sua vida, retomando os estudos através do curso de Paisagismo — um sonho e um hobby que se concretizavam. Era uma mãe, esposa, irmã, filha e amiga exemplar, sempre pronta e preocupada em ajudar todos ao seu redor. Apaixonada por viagens, sempre organizando e pensando o próximo destino. Mulher forte, determinada e inquieta, sempre disposta a aprender e a reunir as pessoas que gostava. Deixou marcas profundas na vida de quem teve a honra de conviver contigo. Teu legado e tua energia contagiante jamais serão esquecidos. Ficam as boas lembranças e a certeza de que cumpriu sua jornada com maestria. Um exemplo a ser seguido de resiliência e empatia. Só podemos dizer que sentiremos muitas saudades... Zela por nós e pela tua família aí de cima. Você era luz, e como você sempre dizia em momentos difíceis: ‘Acalma teu coração’.”
Nilza De David Chelotti, amiga e colega da Flavia:
“É difícil colocar em palavras o que sentimos quando alguém tão especial parte. Flávia não era apenas uma colega — foi uma amiga generosa, uma presença luminosa e constante em nossas vidas. Sua partida deixa um vazio profundo, mas também uma imensa gratidão por termos compartilhado com ela tantos momentos maravilhosos, de alegria e leveza. Flavinha tinha esse dom raro de transformar o ambiente ao seu redor com um sorriso, com uma palavra de apoio, com o seu jeito acolhedor e cheio de luz. Era daquelas pessoas que escutava de verdade, que enxergava além das aparências e que sabia estar presente de forma íntegra e sincera. A sua amizade foi um presente que levaremos para sempre no coração. É impossível não sentir saudade — da sua risada, das conversas, dos abraços, da força tranquila que transmitia mesmo nos momentos difíceis. Mas escolhemos lembrar da Flávia com a ternura que ela nos ensinou: celebrando sua vida, sua coragem, sua sensibilidade e a beleza que espalhou por onde passou. Seguiremos em frente, levando um pouco da sua luz em cada gesto de carinho, em cada ato de gentileza. E guardaremos com afeto a memória de quem soube ser colega, amiga, companheira e inspiração. Obrigada, Flavia, por tudo o que você foi e continuará sendo em nós. Com amor e saudade.”
Nas águas da Barragem da Usina de Itaúba, em Pinhal Grande, há um pescador que se destaca não apenas pelo ofício, mas pela companhia inusitada que leva a cada jornada. Silvio Dias, mais conhecido como Bodinho, é um verdadeiro ribeirinho. Com a sua canoa e uma tripulação fiel, ele sai pelo rio ao lado de seus oito companheiros inseparáveis – mas não são humanos, e sim cães aventureiros.
Bingo, Mana, O Mano, Chico, Princesa, Cólera, Beto Vem e Colerinha são os parceiros fiéis de Bodinho. Sem nunca terem recebido qualquer tipo de treinamento, os cachorros aprenderam sozinhos a se equilibrar na canoa e a embarcar nas pescarias diárias. “Ninguém ensinou, eles aprenderam por conta própria”, conta Bodinho com orgulho, enquanto observa a tropa navegadora tomar posição para mais um dia de pesca.
Além de viver da pesca, Bodinho também é um grande defensor da natureza. Para ele, preservar o rio e seus arredores é tão essencial quanto garantir o peixe do dia. E com uma tripulação dessas, a pesca nunca é solitária – pelo contrário, é uma verdadeira aventura, onde lealdade e amizade navegam juntas pelas águas de Itaúba.
O faxinalense Pedro Afonso Scapin Belbon Taborda, 10 anos, foi selecionado para compor a base da Chapecoense, em Chapecó (SC). Filho de Neide Scapin e de Nicksandro Taborda, Pedro joga futebol desde seus quatro anos de idade, seu maior incentivador e admirador foi seu pai Nicksandro. Em entrevista ao Jornal Cidades do Vale, Neide contou como é a convivência do filho no dia-a-dia e a sua paixão pelo futebol. Confira a entrevista na íntegra.
JCV - Como é o Pedro no cotidiano, na escola?
Neide - Pedro, é um guri exemplar, um coração gigante, muito dedicado, mas bastante genioso, à semana dele aqui no Sul já era puxada, fazia personal três vezes na semana, duas horas de inglês semanal, treinava no Cruzeiro com o prof. Jorge 2 vezes na semana, estudava no Adelina, das 07h às 11h30. Alimentação regrada. Sempre que podia, estava com uma bola debaixo do braço. Guri determinado com seus objetivos, na escola sempre foi bem, acredita em Deus, ama sua família, leal com os amigos, apaixonado pelos primos e pela mana Renata.
JCV - Quando o Pedro se interessou pelo futebol?
Neide - Pedro joga futebol desde seus quatro anos de idade, seu maior incentivador e admirador é seu pai, Nicksandro. Na escolinha da Chapecoense de Santa Maria, coordenada pelo professor e técnico Tiago Duarte e seus assistentes Gleisson Vasconcelos e Elisandro Dalanora. Muito competitivo, não entra em campo para perder. No decorrer destes 06 anos de jogador da Chapecoense de Santa Maria, conquistou vários títulos de campeão, das sub´s quais ele representou, este ano foi campeão com a equipe da Escolinha Chapecoense de Santa Maria, na Copa PRS, marcando seus 08 gols. Na copa de aniversário da Chapecoense, dia 08 de março, marcou seus 06 gols, nesta trajetória conquistou suas 20 medalhas algumas delas entre artilheiro, jogador destaque e goleador.
JCV - Para qual time ele torce (Grêmio, Inter ou pra própria Chape)?
Neide - Colorado de alma e coração e claro o time da Chapecoense.
JCV - Como chegou o convite pra jogar na Chapecoense?
Neide - Tiago Duarte, o técnico dele, encaminhou para uma avaliação de três dias em Chapecó, no final da copa de aniversário da escolinha da chape, dia 08 de março após receber o troféu de campeão da sub 11, fomos para Chapecó, Pedro, pai e mãe. Lá ele participou de avaliações com a corporação técnica responsável. Voltamos para o sul , cheios de alegria de poder participar com ele em um momento muito importante da vida dele, e aguardando o resultado que só iria sair dia 14 de março. Na terça-feira dia 14 veio o resultado. Recebemos a notícia de que o Pedro havia passado nas avaliações, e que na quinta feira às 14h era para se apresentar em Chapecó.
JCV - Qual foi a reação da família?
Neide - Um misto de muitas emoções, entre alegrias um tanto de preocupação, pela mudança repentina, mas soubemos administrar o momento e apoiar ele, em conversa perguntei se ele estava preparado, me respondeu com segurança que sim, que ele iria, e daria o melhor dele como sempre, e que Deus havia ouvido suas orações, isso nos tranquilizou, e seguimos para Chapecó na quinta-feira, para ver moradia e colégio, ele seguiu dizendo, nunca foi sorte sempre foi Deus.
JCV - Com quem o Pedro vai morar em Chapecó?
Neide - Vai morar com o pai. Ele será acompanhado em todos os momentos, pela sua família.
JCV - Como está o coração de mãe? Tranquilo?
Neide - Mesmo sabendo que faz parte da vida e por ele ter apenas 10 anos de idade, o coração apertado, misturado de orgulho e saudade. Entre nós existe um amor imenso que supera qualquer distância. Todos os dias nos falamos e ele está super seguro, focado.