A profissão de merendeira escolar envolve a preparação e o fornecimento de refeições para alunos e funcionários em escolas. No dia 30 de outubro é celebrado o Dia das Merendeiras, elas são responsáveis por planejar e organizar o preparo dos alimentos, garantindo que as refeições sejam balanceadas e sigam as normas de higiene e segurança alimentar. Elas também cuidam da limpeza da cozinha e dos utensílios, controlam o estoque de ingredientes e zelam pela qualidade e pelo sabor das refeições. Além disso, desempenham um papel importante no bem-estar dos alunos, oferecendo uma alimentação saudável que contribui para o desenvolvimento e o aprendizado dos estudantes. A reportagem do Jornal Cidades do Vale entrevistou duas das três merendeiras da Escola Dom Antônio Reis, de Faxinal do Soturno: Ciara Suzana da Silva e Caroline Schuster. Completa o grupo de funcionárias da área Rosélia da Silva Camargo.
Ciara, 60 anos, atua há três anos no educandário. “Eu comecei a trabalhar desde os oito anos, nas casas, então fui aprendendo a cozinhar. Meu último emprego foi o Hospital de Caridade São Roque, atuava também na cozinha e depois vim para cá”, afirmou. Caroline conta que sabia cozinhar, mas não era acostumada a cozinhar em grandes quantidades. “No começo é um pouco difícil, mas a gente vai se adaptando e aprende, pega o jeito, as quantidades e o número de alunos que comem a merenda”, contou.
Com horários variados, ela, nas terças e quintas-feiras, também prepara o almoço, além do lanche. “O cardápio é sempre variado, tem a nutricionista que acompanha e passa os cardápios, e a gente executa. Produtos de boa qualidade, fresquinhos, tudo é feito na hora, com muita higiene e cuidado. São em torno de 125 alunos que fazem as refeições”, contou Ciara.
De acordo com as merendeiras, a realidade atual é diferente do passado. “Tem um tempo já que as merendas dos alunos têm um controle bem rigoroso, cardápio diferente; na nossa época não era assim, comia-se um tipo de merenda a semana inteira. Agora mudou tudo, é bem balanceado”, disse Caroline.
Ciara conta que a realidade dos alunos também varia. “A gente sabe que tem alunos que fazem as melhores refeições aqui, cada um tem uma realidade, e somos muito sensíveis em relação a isso. Tem alunos que repetem, e não tem problema; o importante é estarem bem alimentados para estudarem bem.”
A vivência com os alunos é especial. “É muito bom, eles nos chamam de tia, dizem que nos amam, é um ambiente muito bom de trabalhar. A gente gosta muito deles, é por eles que temos a nossa profissão”, afirmou Ciara.
A profissão de pintor tem uma longa história que remonta à antiguidade, com exemplos de pinturas decorativas e artísticas em templos, monumentos e residências. Civilizações antigas, como os egípcios, gregos e romanos, já utilizavam pigmentos naturais para colorir paredes e esculturas, muitas vezes com propósitos religiosos, culturais ou estéticos. Dois moradores de Faxinal do Soturno se destacam nessa profissão. A reportagem do Jornal Cidades do Vale contará as histórias de Antonio Santos, 82 anos ou Nico Pintor, e Getúlio Vedoia, que atuam há muitos anos no ramo.
Nico conta que faz 65 anos que é pintor. “Comecei em Dona Francisca com o meu irmão que trabalhava de pintor, foi com ele que aprendi muitas das coisas e depois fui me interessando por esse ramo. O Vedoia trabalhou comigo, aprendi com ele muito também, pintamos algumas igrejas aqui na região, o Hospital de Caridade São Roque, enfim, diversos locais era a gente que fazia”, contou.
De acordo com Nico, no passado o trabalho era mais difícil que atualmente. “Cada momento exige mais ou menos, na nossa época as tintas não vinham praticamente prontas como vêm hoje, precisávamos misturar, tinha um tipo que passávamos uma mão e depois tínhamos que passar água para ela fixar, e assim era, agora tudo mais moderno”, relatou.
Nico ainda está na ativa. “Meus filhos falam para eu parar, mas não consigo, fazer o que em casa, então ocupo meu tempo, faço o que gosto e ainda ganho um dinheiro”, afirmou.
Getúlio conta que começou cedo na área da pintura, ainda na cidade de Soledade, onde morava. “Tinha de 14 para 15 anos, era ajudante de pintor. Eu tinha duas escolhas: ou ser pedreiro ou pintor, mas eu tinha um problema com a areia, que o barulho dela me dava dores nos dentes, então optei pela pintura. Comecei de ajudante, eu não sabia direito, uma vez fui com um outro pintor ajudar em uma casa a pintar o forro, pintei com o corpo embaixo da tinta, ao invés de ficar mais de lado do pincel, resultado foi que saí todo pintado de verde de lá. Os mais experientes também me colocavam para pintar embaixo e pintavam em cima e caía cal em mim, assim era no começo”, lembrou ele.
Ele conta que rodou por diversas cidades do Rio Grande do Sul pintando. “Sempre pegava obras grandes, comecei na rede de Bancos do Brasil em Passo Fundo, e aí depois eles foram me indicando e fui rodando diversas cidades pintando os prédios dos bancos, fui para Marau, Erechim, Carazinho, Sarandi, Três Passos, enfim, diversas cidades com esse trabalho”, contou ele.
Em 1975, ele veio morar em Faxinal do Soturno para pintar o Banco do Brasil. “Em Faxinal também pintei a igreja Matriz São Roque, e depois as outras todas na região, por exemplo, Dona Francisca, Nova Palma, Vale Vêneto, Sítio dos Melos e outras tantas. Eram torres altas para pintar, exigia muita atenção de quem trabalhasse na pintura e equipamentos de segurança”.
Getúlio também pintava silos de armazenagem de grãos. “Com esse trabalho também fiquei conhecido, ia para muitas cidades, eram locais altos, de 25 a 28 metros e nós fazíamos o trabalho. Tudo com tintas especiais para evitar que tivesse umidade, era bem desafiador e trabalhoso. Nessas pinturas, teve em toda a vida um acidente com um homem que trabalhava comigo, ele acabou falecendo ao cair do silo, foi em São Gabriel esse fato triste”, contou.
Com a grande procura pelos serviços dele, Getúlio passou a agregar funcionários. “Muitos pintores passaram pelas minhas mãos, aprenderam comigo, e trabalharam comigo. Eu cheguei a ter em um momento 25 trabalhadores com carteira assinada. Eu montava as equipes, e acompanhava os serviços nas cidades, primeiro ia acomodar eles e depois eles faziam o trabalho”.
Os filhos de Getúlio também seguiram a profissão. “Tive alguns filhos, e a maioria ingressou nessa área, outros depois acabaram saindo, isso faz parte. Eles me ajudavam, porque cresceram comigo pintando, e claro, com o tempo, maiores ajudavam direto. Tivemos muitas pinturas em locais altos e aí eles eram mais novos e facilitavam o meu trabalho”.
Por fim, ele diz que o segredo de uma boa pintura é o capricho. “Certamente precisa ser feito um serviço no capricho, com responsabilidade de prazos. Eu também tinha muito conhecimento sobre orçamento de pinturas, dizia quanto era necessário de tinta e sempre batia, isso aprendi com a vida. Analisava a superfície, se precisava de mais demãos de tinta e pedia para que eles comprassem a quantidade necessária”.
A reportagem do Jornal Cidades Vale, voltou aos locais onde havia ido produzir material na primeira semana pós desastre
Passados seis meses da enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul, a reportagem do Jornal Cidades Vale voltou aos locais onde havia ido produzir material na primeira semana após o desastre. O intuito é saber dos moradores como tem sido a vida no trabalho de reconstrução. Confira algumas histórias:
Decisão de se mudar e as lembranças dos dias de pavor
José Antônio Gonçalves da Silva, 64 anos, morador de Val Veronês, interior de Silveira Martins, decidiu que não vai mais morar no local. “Tivemos bastante trabalho, algumas coisas estão no lugar, mas ainda há muita pedra, galhos, o cenário mudou pouca coisa. Fizemos uma espécie de ponte, uma passagem que não tinha, agora o transporte escolar vem até aqui. Mas decidi que não vou mais morar nesse lugar, aqui está condenado, não tem segurança nenhuma. Se Deus o livre der de novo, aqui vai ser atingido mais uma vez”, disse ele.
Sobre os dias de pavor, ele disse que ainda estão vivos na memória. “A gente só se salvou porque parou de chover. Corremos para um morro, e se tivesse mais chuva ele também ia desabar, e nós juntos. Não tínhamos alternativa. Hoje sinto muita dor nas pernas, no corpo. Consultei um médico, ele fez exames e associou ao estresse nervoso, além do esforço dobrado que fiz naquele período, tentando tirar pedras. Trabalhamos muito em volta para ajustar um pouco, são as consequências de dias de muitas dificuldades”, ressaltou José.
As lembranças a reconstrução por meio da plantação de flores e árvores
Já na Linha Seis Norte, o casal de moradores Ingo Miguel Franke e Norma Isabel Franke contou que, com o passar do tempo, o receio foi diminuindo. “Normalmente somos muito tranquilos, mas, claro, naqueles dias ficamos apreensivos. Nunca havia acontecido. No começo, quando chovia, a gente tinha um certo receio, mas isso foi passando. Ainda lembramos bem de como tudo aconteceu, mas agora estamos trabalhando na reconstrução”, contou Norma.
Norma disse que os açudes destruídos serão refeitos. “Resolvemos reformar a nossa casa, precisamos comprar eletrodomésticos e móveis novos. Pegamos uma draga para retirar uma parte dos entulhos que tinham na lateral da casa. Meu marido quer refazer os açudes que tínhamos, e isso vamos fazer. Nossa horta já está linda, cheia de produções, inclusive fizemos diversas doações de hortaliças. Plantei algumas flores, árvores frutíferas e eucaliptos. Meu herbário também ganhou vida novamente, e assim vamos entendendo o tempo da natureza e reconstruindo com muita paciência”, afirmou ela.
Nesse meio tempo, os netos de uma das filhas vieram visitar os avós. “Minha filha veio, e os meus netos também. Ela veio explicando no caminho para eles que não estava tudo como antes, que a chuva forte tinha mudado o cenário. Veio contextualizando para que, quando chegassem, soubessem do ocorrido. Eles estranharam um pouco, queriam ver os peixes e tudo mais que tínhamos, mas depois também entenderam. Em outro momento deverá vir a outra filha”, contou Norma.
Por fim, Norma fez questão de relembrar o apoio que recebeu das pessoas. “Ficamos impressionados com aqueles que vieram nos ajudar a limpar a casa na época, quando entrou barro, e depois vieram tomar mate conosco e conversar. Isso foi muito importante. Ficamos muito felizes com as atitudes deles. Em meio a tudo isso, a gente precisa enxergar as coisas boas, e essa empatia foi algo que nos marcou muito. Mais uma vez, agradeço muito a eles que nos ajudaram”, finalizou.
O recomeço em uma nova morada
O morador da Linha Seis Norte, Luiz Piccinin, 72 anos, se mudou de onde morava. “Aqui não tivemos deslizamentos, mas a água do arroio subiu muito. Foram momentos bem apreensivos. A gente já estava acostumado às cheias aqui, mas nada parecido com o que aconteceu. Minhas filhas ficaram preocupadas e falaram para a gente sair daqui. Eu entendi que não dava mais. Compramos uma casa na Linha Duas e fomos para lá morar. Abandonamos aqui.”
Luiz ainda vai até a propriedade para fazer a manutenção. No dia da entrevista, estava cortando grama. “A gente cuida, não dá para deixar o mato crescer. Temos um quiosque, onde sempre os vizinhos e familiares que tinham aniversário faziam aqui, já era combinado. Vamos marcar um sábado para nos juntar e recuperar. E, com o tempo, quem sabe vender a propriedade.”
De acordo com Luiz, a nova morada é boa. “A gente tem que se adaptar. Onde estávamos era um risco. Já estamos mais velhos e precisamos entender isso. Na nova casa não tem perigo e o deslocamento é fácil, o asfalto passa na frente e, claro, estamos seguros”, disse ele.
No passado, os relógios nas igrejas desempenhavam um papel central na vida cotidiana das comunidades, especialmente em uma época em que os relógios pessoais eram raros e caros. Os sinos tocavam em intervalos regulares, sinalizando as horas do dia para que as pessoas soubessem quando iniciar ou encerrar suas atividades, como o trabalho nos campos, refeições e orações. Na última semana, o relógio da Igreja Matriz São José, de Ivorá, passou por manutenção. Dauri Klein, 69 anos, de Marques de Souza, veio até o município e trabalhou para colocar o relógio em funcionamento. O relógio foi fabricado há muitos anos pelo alemão Bruno Swertner, morador de Estrela.
Foram alguns dias de trabalho até que o relógio voltasse a funcionar. O tesoureiro da comunidade, José Eduardo Donato, explicou que não lembra se o relógio havia passado por reparos completos antes. “A inauguração da torre e do relógio foi no dia 24 de janeiro de 1932, então fazem 92 anos que o relógio foi colocado. Ele faz parte do cotidiano da nossa comunidade. Nós fazíamos uma manutenção caseira, mas uma como essa que fizemos agora ainda não tinha sido feita. As pessoas nos cobravam, e, claro, antigamente ele guiava as pessoas; hoje, nem tanto, mas as pessoas têm o costume de ouvir o sino tocar. Então resolvemos, sim, deixá-lo em condições de funcionamento”, contou ele.
Dauri disse que trabalha com relógios desde os 16 anos. “Eu fiz um cursinho por correspondência, não tive oportunidade de fazer faculdade, então fiz esse curso profissionalizante de eletrônica e elétrica. Comecei com aqueles cucos de parede, que se dava corda manualmente, depois passei para relógios de pulso, mas também fazia de tudo: era pintor, ourives, soldador, projetista de móveis; aprendi de tudo nessa vida”, contou ele.
Ele começou a trabalhar com relógios de igreja quando o da comunidade onde ainda mora quebrou. “Tinha apenas uma pessoa que sabia mexer, ele adoeceu, e aí me procuraram e pediram para eu dar uma olhada. Curioso como sou, fui ver e consegui fazer funcionar. Desde então, fiquei responsável pela manutenção do relógio”, explicou.
Com o tempo, outras igrejas passaram a procurá-lo para manutenção. “Não havia ninguém que soubesse mexer nos relógios, então iam me chamando e eu conseguia consertar. Depois, as comunidades iam me indicando. Muitas igrejas, até por não terem técnicos, trocaram os relógios mecânicos por eletrônicos, mas isso não dava muito certo, principalmente pela manutenção. Um relógio mecânico, se estraga, a gente faz a peça manualmente. Já um eletrônico, com seu sistema diferente, exige muito mais. Então, aconteceu de eu ir a igrejas onde o eletrônico foi deixado de lado, e eles voltaram a usar o mecânico, no qual eu mexia e fazia funcionar”, relatou.
Na igreja de Ivorá, Dauri conta que foi feita toda a manutenção. “Desmontamos todo o relógio, lavamos as peças, remontamos, fizemos o que era necessário, e agora ele está em pleno funcionamento, à disposição da comunidade.”
Na terça-feira (1º), foi realizada, na sede do hospital, a assinatura do contrato para o início das obras de ampliação do Hospital de Caridade São Roque. O novo prédio terá cinco andares, com um total de 3.800 m². Nessa primeira fase serão investidos R$ 2.850.000,00 na estrutura pré-moldada que será de responsabilidade da empresa Premil de São João do Polêsine. A primeira parcela, no valor de R$450 mil, foi paga na assinatura do contrato, e o restante será pago nos próximos meses. O total de todas as fases do novo prédio está orçado em R$10 milhões e 500 mil reais.
O presidente do hospital, Roberto Cervo ‘Melão’, destacou a importância da obra para a região. “Nosso pensamento é grande, porque acreditamos que a comunidade merece uma saúde de qualidade. Estamos trabalhando de forma incansável, angariando recursos e buscando oferecer mais serviços. Com a ampliação do espaço, certamente teremos mais possibilidades de atendimento. Estamos felizes com mais esse passo que estamos dando. Somos gratos a todos os envolvidos nesse nosso processo de evolução”, afirmou.
O prazo para a conclusão dessa primeira etapa é de seis meses. E a finalização da toda obra deve ocorrer em três anos.
Um paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) publicou na última semana um estudo no periódico científico Gondwana Research descrevendo uma nova espécie de réptil que viveu há 237 milhões de anos. O animal traz novas pistas sobre a origem dos dinossauros. O artigo intitulado “A new ‘silesaurid’ from the oldest dinosauromorph-bearing beds of South America provides insights into the early evolution of bird-line archosaurs” pode ser acessado gratuitamente pelo link.
O surgimento dos dinossauros foi um dos processos evolutivos mais importantes da história da vida na Terra, uma vez que esses répteis dominaram os ecossistemas terrestres por mais de 150 milhões de anos. Entretanto, a ascensão dos dinossauros ainda é um tema muito desafiador de se investigar, especialmente pela escassez de fósseis de seus precursores. O Brasil é conhecido mundialmente por abrigar alguns dos mais completos e bem preservados fósseis dos mais antigos dinossauros do mundo, com aproximadamente 230 milhões de anos. Por outro lado, embora essenciais para se entender a origem do grupo, fósseis de precursores de dinossauros mais antigos ainda são muito raros.
Compreender como foram os precursores dos dinossauros poderá ajudar a entender quais as características que foram cruciais para a o seu sucesso evolutivo. Ao longo dos últimos anos, foram reportados achados desse tipo para camadas fossilíferas com aproximadamente 237 milhões de anos no Brasil. Contudo, esses fósseis são usualmente fragmentários e pouco informativos.
Uma adição a esse cenário se deu agora com a descrição de uma nova espécie chamada de Gondwanax paraisensis. Os fósseis da nova espécie foram descobertos no município de Paraíso do Sul por Pedro Lucas Porcela Aurélio. Depois de recolhidos, os materiais foram doados por Aurélio para o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA/UFSM) em janeiro de 2024.
Durante a triagem dos fósseis recebidos pelo CAPPA/UFSM, o paleontólogo Rodrigo Temp Müller notou alguns elementos com características interessantes. O paleontólogo levou os materiais para o laboratório e iniciou um minucioso trabalho de preparação, com uso de ácido e marteletes pneumáticos. Após dias de trabalho, parte do esqueleto de um réptil até então desconhecido foi finalmente revelada. Uma descrição formal da espécie e suas implicações foram apresentadas em um artigo científico publicado por Müller no periódico Gondwana Research. A pesquisa recebeu apoio do CNPq e INCT Paleovert.
Os detalhes do esqueleto fossilizado sugerem que o material pertence a um animal da linhagem dos dinossauros, podendo ser um dinossauro propriamente dito ou um parente muito próximo. Com aproximadamente 237 milhões de anos, esse é um dos fósseis mais antigos dessa linhagem já descobertos. Com base nas dimensões dos elementos preservados, estima-se que o Gondwanax paraisensis teria atingido cerca de um metro de comprimento. Uma vez que não foram recuperados dentes ou outros elementos cranianos, não foi possível inferir seus hábitos alimentares. Ainda assim, a maioria dos animais relacionados a ele foram herbívoros ou onívoros, o que torna bastante provável que ele também tivesse esse tipo de dieta. Quanto ao nome, “Gondwanax” significa “lorde do Gondwana”, referindo-se ao futuro domínio que os dinossauros exerceriam na porção de terra conhecida como Gondwana (região Sul do Supercontinente Pangeia). Já “paraisensis” é uma homenagem ao município de Paraíso do Sul.
Importância do Brasil no cenário internacional
O Gondwanax paraisensis foi classificado como membro do grupo denominado “Silesauridae” devido a características diagnósticas presentes no fêmur (osso da coxa). Contudo, existe um debate sobre a posição que os “silessaurídeos” ocupavam na árvore evolutiva dos dinossauros. Alguns pesquisadores acreditam que esses animais podem ter sido precursores muito próximos dos dinossauros, enquanto outros sugerem que, em vez de precursores, eles eram dinossauros verdadeiros. Esse conflito de hipóteses ocorre justamente porque os “silesaurídeos” apresentam características típicas de dinossauros, mas também possuem algumas que ainda parecem bastante primitivas.
Essa condição é observada nos elementos ósseos de Gondwanax paraisensis. Por exemplo, o fêmur não apresenta uma das principais cristas para ancoragem de músculos, que é comum em dinossauros. Já o seu sacro (região que conecta a cintura com a coluna) parece bastante avançada, uma vez que apresenta mais vértebras do que outros “silessaurídeos” com idade similar. Essa incomum combinação de características pode indicar que o Gondwanax paraisensis locomovia-se de maneira distinta dos outros precursores dos dinossauros. Ainda, a ocorrência do Gondwanax paraisensis em camadas fossilíferas que já haviam revelado outros fósseis de “silessaurídeos” indica que esses dinossauromorfos foram bastante diversos, mesmo durante as fases iniciais da evolução do grupo.
A descoberta do Gondwanax paraisensis em rochas com aproximadamente 237 milhões de anos na região central do Rio Grande do Sul destaca a importância do Brasil no cenário internacional do estudo da origem dos dinossauros. Enquanto há cerca de 10 anos os fósseis de dinossauros eram comemorados com enorme entusiasmo pelos paleontólogos que realizavam escavações no Rio Grande do Sul, hoje eles se tornaram mais abundantes, levando os pesquisadores a buscar vestígios ainda mais antigos, como o Gondwanax paraisensis. O achado demonstra que, além de preservar alguns dos dinossauros do mundo, o Brasil também abriga fósseis dos répteis que marcaram o início da história evolutiva dos dinossauros, revelando detalhes até então desconhecidos dessa trajetória que transformou os ecossistemas terrestres durante a Era Mesozoica.
Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica
Os restos fósseis do Gondwanax paraisensis, assim como uma série de outros fósseis, estão depositados no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA/UFSM) que fica localizado no município de São João do Polêsine. O município faz parte do Geoparque Quarta Colônia Unesco. No centro de pesquisa há uma exposição de fósseis que pode ser visitada sem custo.
Fonte: CAPPA/UFSM
No dia 6 de outubro, ocorrerão as eleições municipais, e quem faz questão de votar é a moradora de Faxinal do Soturno, Adelina de Oliveira Hollveg, conhecida como Delma, de 85 anos. De acordo com um levantamento, na região Sul, a média de eleitores acima de 70 anos é de 10,7%.
O chefe do Cartório Eleitoral de Faxinal do Soturno, Nei Costa, em entrevista à reportagem do Jornal Cidades do Vale, afirmou que há uma busca crescente pela regularização desse público para as eleições. “As pessoas com mais de 70 anos podem ou não votar, mas percebemos que, nesta eleição, muitos idosos e seus familiares estão buscando informações sobre a votação. Quem estiver com a situação eleitoral regularizada será bem-vindo para votar. É importante destacar que, se necessário, o idoso pode ser auxiliado para chegar à urna, pois às vezes há dificuldades de locomoção, e essa ajuda é permitida", explicou.
Dona Delma conta que vai às urnas desde os 18 anos. “Naquela época ainda era cédula, e eu ia votar. Sempre achei muito importante participar das eleições. Meu esposo também, até falecer, eu votaria junto comigo”, lembrou ela.
Mesmo não sendo mais obrigada a votar, Dona Delma considera importante participar do processo democrático. “Sempre vou votar, até quando eu puder. Digo para as pessoas que têm condições que vão também, ajudem a escolher os nossos representantes, é muito importante. Já estou com meu título em mãos, no dia 6 de outubro vou votar, e até já escolhi meus candidatos”, afirmou.
Quais documentos devo levar para votar?
Antes de sair de casa no dia 6 de outubro, data do 1º turno das eleições de 2024, lembre-se de levar um documento oficial com foto para comprovar a sua identidade. Veja abaixo as opções válidas para apresentar na seção eleitoral:
Carteira de identidade (Registro Geral ou RG) ou a identidade social (no caso de pessoas trans e travestis);
Passaporte;
Certificado de reservista (para homens que prestaram serviços militares na reserva);
Carteira de trabalho ou de categoria profissional reconhecida por lei;
Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Você também pode comprovar a sua identidade apresentar o aplicativo e-Título, desde que tenha foto e cadastro das impressões digitais na Justiça Eleitoral.
Atenção! Os documentos podem até estar fora do prazo de validade, mas precisam estar legíveis.
Preciso mesmo votar?
O voto é um direito e dever de toda cidadã e todo cidadão brasileiro. Segundo a Constituição Federal, há duas categorias de eleitorado, para as quais o voto é obrigatório ou facultativo nas eleições.
De acordo com a norma, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para eleitoras e eleitores que têm entre 18 e 70 anos e facultativo para os analfabetos, jovens de 16 e 17 anos e maiores de 70 anos.
A profissão de costureira é uma das mais antigas e importantes da história da humanidade, com raízes que remontam à pré-história, quando os primeiros humanos começaram a criar roupas para se proteger do clima. Inicialmente, as roupas eram feitas com peles de animais, presas com ossos ou espinhos. Com o passar dos séculos, surgiram os tecidos, e a habilidade de costurá-los se desenvolveu.
Hoje, a profissão de costureira continua a ser uma combinação de arte, técnica e tradição. A reportagem do Jornal Cidades do Vale conheceu a história de Neimar Aparecida Manfio, costureira de Faxinal do Soturno, que desde os 16 anos, após fazer um curso de costura em Nova Palma, desenvolveu o gosto pela profissão. "Trabalhei seis anos em uma fábrica de roupas íntimas, e há uns 15 anos atuo em casa. Sempre gostei muito de costura. Quando criança, minha mãe fazia roupinhas para nossas bonecas, e eu já achava aquilo lindo. Depois, fui crescendo e queria ajustar minhas roupas, mas minha mãe não gostava que eu mexesse na máquina (risos). Quando apareceu o curso, fiquei muito feliz e fiz", lembrou.
Neimar recorda que, no passado, havia muitas pessoas que se dedicavam à costura. "Tinha muitas mulheres que trabalhavam com costura, e com o tempo isso foi diminuindo. Mas as pessoas ainda procuram muito. Eu me vejo sempre na correria para dar conta de tantas clientes. Por isso, penso que deviam haver mais costureiras. As prefeituras poderiam oferecer cursos para que novas pessoas se interessem, porque demanda sempre tem", contou.
Segundo Neimar, o processo da costura segue algumas regras. "A pessoa traz o modelo, a foto, como quer a roupa, eu tiro as medidas, faço o corte, a cliente vem provar para ajustar, e depois faço o acabamento e entrego. As pessoas gostam porque são peças exclusivas, feitas no tamanho certo, de acordo com o corpo de cada um", ressaltou.
Neimar confecciona roupas de festa, peças para o cotidiano, além de cortinas e toalhas. Além disso, nessa época de Semana Farroupilha, os pedidos para vestidos de prenda e bombachas triplicam. "A gente aprende praticando. Eu vejo o modelo e vou fazendo. Não tem uma regra muito específica, porque a moda muda muito, e a gente precisa se adequar. Na semana do gaúcho, e pouco antes, é sempre bem corrido. As pessoas querem os trajes e me procuram. Já fiz para invernadas dos CTGs, a gente acaba fazendo de tudo um pouco."
Neimar emprega mais duas pessoas, Marli Zanon e Dielsa Zemolin. "Talvez até precisasse de um espaço maior e mais gente para ajudar. Mas, devagar, vamos dando conta. É bem corrido. Se eu quisesse, teria trabalho noite adentro", finalizou.
O Instituto Renascer Mateus Meneghetti vem, ao longo de sua existência, realizando um trabalho significativo na comunidade faxinalense e regional. Desde sua fundação, o projeto vem transformando vidas. Nesta semana, a reportagem do Jornal Cidades do Vale destaca as ações que o projeto realiza. No total, mais de 150 pessoas diretas, entre crianças e adultos, fazem parte das atividades desenvolvidas diariamente.
A história do Instituto Renascer
Idealizado pelo faixa-preta de Jiu-Jitsu, Mateus B. Meneghetti, junto com seus amigos e parceiros de treino, Flavio Stone e Josué Goulart, em janeiro de 2016, iniciaram aulas de Jiu-Jitsu com o objetivo de promover a integração social por meio do esporte. Rapidamente, o número de participantes começou a aumentar, e a ideia de levar o esporte para todos tornou-se uma ferramenta de transformação social. Em 2022, em um cenário de pós-pandemia, o número de famílias participantes das aulas aumentou, e a vontade de expandir o projeto e a comunidade cresceu ainda mais. Para atender esse grupo cada vez maior e fazer do esporte um instrumento de educação e transformação social, o projeto se desenvolveu, tornando-se uma Organização da Sociedade Civil (OSC), sem fins lucrativos - o Instituto Renascer Mateus Meneghetti. O Instituto busca despertar o potencial dos seus alunos e familiares, com o intuito de superar as desigualdades sociais, formando vencedores dentro e fora dos tatames.
O Quintal da Vida
O Projeto Quintal da Vida surgiu da necessidade de expandir o projeto, quando, a partir do esporte, o presidente do Instituto, Mateus Meneghetti, passou a identificar os problemas sociais das crianças e adolescentes que frequentavam os treinamentos de Jiu-Jitsu. Após firmar um termo de cooperação com a prefeitura, o espaço onde funcionava o Horto Municipal ganhou uma nova função. Foi nesse espaço que as primeiras famílias iniciaram o trabalho com verduras e hortaliças.
A vice-presidente do Instituto, Bruna Ceolin, explica que o local se tornou uma horta comunitária no início. “Começamos assim, com as famílias envolvidas, e depois o espaço foi ganhando forma e atendendo mais crianças da região. Atualmente, o espaço está totalmente repaginado e, além de quem trabalha aqui ter acesso ao que é plantado, fazemos doações de verduras para festas comunitárias em todo o município”, contou ela.
Escola de artes
Com o intuito de envolver as crianças e proporcionar atividades para elas no contraturno escolar, o Instituto iniciou a Escola de Artes, com aulas de teatro e arte urbana. “As crianças e adolescentes que frequentam as aulas são principalmente da Vila Falcão, Verde Teto e Barragem. Podemos dizer que esse é o foco, mas o projeto é aberto para qualquer um que queira participar. Aqui eles têm aulas de teatro, de canto, pintura, enfim diversas atividades”, destacou Bruna.
Cozinha saudável
Dentro das suas possibilidades, o projeto busca ampliar seu campo de atuação. Com a parceria da Antonio Meneghetti Faculdade (AMF), por meio de um projeto, o Instituto Renascer foi contemplado com uma cozinha moderna. Bruna conta que, no espaço, as famílias recebem cursos de voluntários sobre a produção de alimentos saudáveis.
“É uma forma de ampliarmos o entendimento dessas famílias também na alimentação. As pessoas voluntárias vêm até aqui e compartilham seus conhecimentos. São várias as oficinas; uma delas, recentemente, foi sobre a produção de panquecas de brócolis, outra de pão, e muitas outras, sempre com o intuito de melhorar a alimentação e o conhecimento dessas famílias.”
A Biblioteca
O espaço da biblioteca também está em fase de conclusão e, neste mês, estará à disposição das crianças, adolescentes e familiares do projeto. Bruna conta que foi feita uma campanha na comunidade para arrecadar livros, mas com uma análise criteriosa em relação às temáticas. “A nossa biblioteca já está praticamente pronta. Adquirimos uma ‘casa’, espaço onde ela vai funcionar. Estamos na fase de organização dos livros e temos muitos planos para o espaço. Além da retirada de livros, também pretendemos criar um clube de histórias, onde as crianças vão ler e debater temáticas lidas, além do reforço escolar”, destacou a vice-presidente.
Sala terapêutica
A Sala Terapêutica, segundo Bruna, contará com atendimento de um médico voluntário, além de outros profissionais de áreas pertinentes que estarão atuando. “Fechamos duas turmas de mulheres para conversar sobre temas mais voltados para a violência contra a mulher. Vamos trazer esses assuntos, expor direitos e fornecer conhecimento sobre isso para elas. Teremos profissionais que realizarão a escuta, entenderão a realidade dessas mulheres e as direcionarão para o melhor caminho. Precisamos acolher essas mulheres”, disse ela.
De acordo com Bruna, no futuro, o intuito é também realizar rodas de conversas com os homens para abordar a violência contra as mulheres e outras temáticas pertinentes.
Regularização de documentos
Um dos próximos passos do Instituto é a regularização de documentos de crianças e adolescentes que frequentam o projeto. “Percebemos que temos essa demanda e vamos, aos poucos, organizando e encaminhando para que eles estejam em dia com seus documentos, tudo certinho”, ressaltou Bruna.
Casas para famílias atingidas pela enchente
O Instituto Renascer é o primeiro órgão na Quarta Colônia a entregar casas para as famílias atingidas pela enchente. No total, 17 casas devem ser entregues, sendo que a primeira foi entregue na quarta-feira (04), na Vila Falcão. Das 17, 13 serão em Faxinal, onde quatro estão em fase de finalização e seis devem ser iniciadas na próxima semana. Quatro casas serão construídas para famílias em Agudo. De acordo com Bruna, todas as casas deverão estar prontas até o dia 30 de setembro.
“Somos os primeiros a entregar casas de fato para as famílias, tanto em Faxinal quanto em Agudo. Estamos muito felizes com isso. Durante o trabalho na enchente, vimos o desespero das pessoas; o quanto não é fácil ficar sem casa, e agora poder minimizar essa dor nos deixa muito felizes e confiantes no trabalho que estamos realizando. Tudo é feito com muito carinho e amor. Os voluntários ajudam, fazem pintura, plantamos flores, tudo para tornar o espaço humanizado, para que sintam que ali é o novo lar deles”, disse Bruna.
Primeira casa entregue na Quarta Colônia
A família de Rute dos Passos Padilha e Valdecir Neto Padilha foi a primeira a receber a casa construída pelo Instituto. Em entrevista ao Jornal Cidades do Vale, Rute falou da alegria de estar em sua nova casa. “Se não fosse o Instituto, seria muito difícil para nós. Quando caiu granizo, nossa casa foi destruída e, depois, com a enchente, o terreno cedeu. Fomos morar em uma casa alugada e, depois, para o Pavilhão no Parque de Exposições. Agora, finalmente, vamos para nossa casa. Agradeço muito ao Instituto e estou muito feliz de estar na minha casa.”
Centro de distribuição
O centro de distribuição, que atuou fortemente durante a enchente, entregando doações de cestas básicas, roupas, itens de higiene e outras necessidades para as famílias, ainda está em funcionamento. “Ele ainda funciona, mas é necessário um contato prévio com os voluntários, precisa ser com hora marcada, não está mais aberto como antes, até porque, felizmente, a demanda é bem menor”, explicou Bruna.
Atuação em São João do Polêsine
O projeto ganhou força e ultrapassou fronteiras, sendo desenvolvido também em São João do Polêsine, onde crianças e adolescentes têm aulas de Jiu-Jitsu, arte urbana e participam da horta escolar. As atividades são desenvolvidas na Escola La Salle, em parceria com a prefeitura.
Agrovila Renascer
Um outro projeto do Instituto que será desenvolvido é a Agrovila Renascer, que será realizada na localidade de Sítio dos Mellos, no interior de Faxinal do Soturno. Esta iniciativa beneficiará 11 famílias e será um exemplo de desenvolvimento sustentável. A construção será feita por meio de parcerias do Instituto Renascer com empresas privadas e cooperativas. O método de construção contará com ajuda de profissionais, além da colaboração de voluntários e dos próprios beneficiários.
Bruna explica que o local contará com um sistema de energia limpa para garantir uma fonte sustentável de eletricidade, uma horta comunitária para promover a segurança alimentar e a integração entre os moradores, uma agroindústria para gerar empregos e valorizar a produção local, além de benfeitorias que promoverão o uso coletivo e a melhoria da qualidade de vida. “Nosso objetivo é criar um modelo de autogestão que possa servir de inspiração para outras comunidades. A Agrovila Renascer é mais um passo na nossa missão de promover um futuro mais justo e sustentável para todos”, concluiu ela.
O CTG Liberdade de Silveira Martins abre as porteiras para os praticantes de bocha na região. Com torneios e eventos, o local acolhe aqueles que escolhem a bocha como seu esporte favorito. Indo além do tradicional, que normalmente é a participação masculina na bocha, a entidade evoluiu e inseriu também mulheres e crianças na prática.
O patrão da entidade, Vilmar Antônio Vieira, está envolvido há 14 anos e destaca a importância de incentivar o esporte. “Temos que motivar as pessoas na bocha, e o CTG acolhe a todos com muito carinho. Muitos vêm pela bocha e acabam se envolvendo nas demais atividades que realizamos aqui. Recebemos famílias, onde o marido joga, a esposa também, o filho participa da invernada e joga também. É um lugar familiar, e esperamos que, cada vez mais, as pessoas participem e conheçam o nosso trabalho”, afirmou ele.
Mulheres na bocha
O idealizador e incentivador da participação das mulheres na bocha foi Altair Tolfo. Ele conta que o grupo de treinamento começou por iniciativa das próprias mulheres. “Em junho começamos; a Josi e a Charlise me disseram que queriam jogar. Eu disse: arrumem umas cinco ou seis meninas e vamos começar. E aí elas começaram a mobilizar as meninas pelo WhatsApp. No dia do primeiro treino, apareceram 10, e eu percebi que elas estavam realmente motivadas”, relatou ele.
Tolfo conta que os treinamentos ocorrem todas as quintas-feiras. “Elas ficam ansiosas esperando a quinta-feira para o treinamento. É um momento de diversão, elas riem, aprendem, mas sem pressão; tudo é pela amizade e pela diversão. Algumas nunca tinham jogado, e hoje já melhoraram muito. Então, tem sido assim, com alegria e leveza, que elas têm aproveitado as noites de quinta-feira”, destacou Tolfo.
No sábado da última semana, elas participaram da primeira competição. “Fomos competir no Caravel, em Vale Vêneto, e elas gostaram. Tiveram um bom desempenho, especialmente para quem está começando. Além disso, lá a quadra era sintética, e elas treinam no carpete, o que muda bastante. Foi a primeira competição, e tenho certeza de que logo participarão de mais. Elas se sentiram bem, mas tudo no tempo delas. Se acharem que vale a pena participar, nós apoiamos”, ressaltou. Além de Tolfo, também incentivam diretamente as mulheres Evandro Noal, José Zanini, o Zequinha e Eliseu Ribas.
Uma das mulheres que iniciou a mobilização do grupo foi Charlise Tolfo. Ela conta que o gosto pela bocha começou com o pai, Altair. “Eu sempre vinha vê-lo jogar; ele sempre foi envolvido com o esporte. Um dia, me perguntei: por que as mulheres não jogam? Não temos tantas opções de lazer aqui em Silveira Martins. Falei com meu pai, ele disse que dava, mas tinha que ter meninas. Comecei a enviar mensagens, e elas foram aceitando. A cada treino, mais meninas iam vindo; no terceiro treino, já éramos 18”, contou ela.
Segundo Charlise, mais de 30 mulheres praticam bocha no CTG Liberdade. “O grupo foi crescendo, e infelizmente tivemos que recusar mais meninas. Elas se juntaram e criaram um grupo para treinar às segundas-feiras. Então, atualmente, mais de 30 mulheres praticam o esporte aqui no CTG. É muito bom ver isso crescer, e as mulheres gostaram da ideia. Isso me deixa muito feliz”, ressaltou.
Charlise conta que os treinos são pura alegria. “É muito bom! Se tivesse mais dias, nós viríamos. Nos divertimos, aprendemos bastante, e, após os treinos, temos jantares, um momento de confraternização que melhorou a rotina das mulheres. Nosso grupo se chama 'As Gurias da Quinta'; o Fino nos batizou assim, e já fizemos nossas camisetas, tudo certinho. Mesmo sendo um esporte predominantemente masculino, percebemos que está ganhando espaço. Em outras cidades, isso já está mais consolidado, mas estamos no caminho. Estamos apenas começando.”
Além das iniciantes, Charlise conta que outras mulheres, com mais experiência, também retomaram a prática. “Há meninas que nunca jogaram e outras que já praticavam no passado e, agora, com o grupo, voltaram a jogar. Isso é muito importante, pois promove a troca de experiências e permite que essas mulheres voltem a praticar o esporte que tanto gostam.”
Cheila Buligon Michelin também participa, mas no grupo de segunda, no Meninas da Bocha, e conta que seu interesse pelo esporte começou na infância. “Comecei a jogar aos 13 anos na minha comunidade, Linha Dois Norte. Na época, participamos de amistosos e campeonatos.” Ela destaca os benefícios do esporte: “Faz bem para o corpo e para a alma; ajuda a aperfeiçoar o foco e a concentração, além de incentivar o planejamento e as estratégias. E, claro, cria-se um círculo de grandes amizades.”
Sobre o preconceito, Cheila afirma que na comunidade ele não existe. “Acredito que a comunidade aceita a presença das mulheres, pois é um incentivo ao esporte. Não vejo preconceito masculino em nossa comunidade; ao contrário, há um grande incentivo para que sigamos em frente.”
Cheila incentiva outras mulheres a participarem do grupo. “Venham participar conosco, pois é um esporte que une as pessoas, envolvendo também as famílias, que sempre nos acompanham nos campeonatos”, afirmou ela.
O diretor de esportes do CTG, Márcio Zanini, ressalta o apoio da entidade a todos que querem praticar bocha. “Somos pioneiros nesta cancha de carpete, com as novas regras e a bocha menor. Isso facilitou o interesse de mulheres e crianças. Por exemplo, na segunda e na quinta-feira, elas estão sempre aqui. Ficamos felizes porque isso movimenta a entidade e torna o local ainda mais saudável para a presença das famílias”, contou ele.
Márcio explica que, devido à procura e ao fluxo de praticantes, a entidade vai ampliar a estrutura. “Em outubro, acreditamos que a nova cancha já estará à disposição da comunidade, também de carpete. Percebemos a necessidade de ampliar devido à grande procura, e assim os esportistas terão mais espaço e serão melhor acolhidos, tanto nos treinamentos quanto nas competições”, afirmou.
As crianças na bocha
Além de homens e mulheres, o gosto pela bocha começa cedo. O pequeno Leonardo Zanini, de 9 anos, começou a jogar aos 7. “No começo, é um pouco difícil, mas depois fica fácil. Eu venho treinar todos os dias, quando posso, venho com meu pai. É muito bom. No jogo, prefiro atirar do que pontear. Com vontade, qualquer um aprende; é só uma questão de treino”, disse ele.