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Flavia Dotto é lembrada por sua luz e generosidade

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São João do Polêsine 22/04/2025
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Um acidente com ônibus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ocorrido na sexta-feira (4), em Imigrante, no Vale do Taquari, vitimou sete pessoas, entre elas, a bancária Flavia Marcuzzo Dotto, 44 anos, de Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine. Na sexta-feira, Flavia viajava no ônibus do Colégio Politécnico como aluna do curso de Paisagismo.

A prima segunda e comadre, Jussara Maria Bortoluzzi, disse à reportagem do Jornal Cidades do Vale que o momento é muito difícil. “Nós éramos comadres, amigas, confidentes, uma irmã, pois só tínhamos irmãos homens, então tínhamos essa cumplicidade de irmãs mesmo”, contou ela.

Questionada como era a Flavia no dia a dia, Jussara a descreve como sendo um ser de luz. “A Flávia era luz, uma fortaleza, mesmo quando parecia estar fragilizada. Era muito bom estar perto da Flavia e amar a Flávia. Como me disse o irmão dela depois que recebemos a trágica notícia: ‘Ju, quem amou, amou’, porque quem a conheceu não tinha como não amá-la. Onde ela chegava, brilhava, contagiava com seu sorriso, que era lindo. Ela era linda, alegre, essa era a Flavia. Sempre de bem com a vida, contagiando quem estava ao redor. E guerreira perante a criação de seus filhos e cuidando dos familiares. Que ela cumpriu a missão dela brilhantemente”.

A comadre conta que a relação era de muitos encontros. “Tínhamos relação de irmãs, de se falar e se ver para o mate, ou o vinho, ou um espumante, sempre que dava, mas principalmente o mate. Ela amava seu chimarrão. Quando íamos para algum lugar, ela sempre dizia: ‘Eu levo o mate, comadre’. Morávamos próximas em Santa Maria e também de nossos pais em Vale Vêneto. E também de viagens, fizemos várias viagens juntas, e, de novo, a Flavia era nossa guia: fazia o roteiro, nossa historiadora (comprava livros dos lugares que íamos visitar para sabermos a história antes), organizava tudo, comprava as passagens, os tickets de trem, metrô, reserva de hotéis, tudo organizado. Ela amava viajar. E eu conheci todos os lugares que sonhei conhecer porque ela se empenhou em organizar. Eu só embarquei e fui, e por isso sou eternamente grata”, relembra Jussara.

Jussara conta que conhecia Flavia desde criança. “A gente se conhecia desde criança, porque quando eu estudava, tinha meus dez, onze anos, eu parava na casa da avó dela, em Vale Vêneto, porque era mais perto do colégio para estudar. Então, o avô dela era irmão da minha avó, então eu parava para estudar. Ela era uma bebê, e eu conhecia a Flávia. A Flavinha era linda, era uma boneca. A gente foi crescendo e, no final de semana, sempre no Vale, ela vinha, e eu ficava esperando para a gente brincar. Na faculdade, cursamos o mesmo curso, eu antes e ela depois, Ciências Contábeis, na Universidade Federal de Santa Maria. Ela casou e veio a família dela, e eu fui dinda, e veio crescendo assim até sexta passada. Essa amizade, essa cumplicidade de viagens... então a gente se conheceu muito criança ainda, antes dos meus 10 anos. A nossa diferença de idade é de cinco anos, ela 44, eu 49.”

Em relação ao sonho de Flavia, Jussara conta que era construir uma casa em Vale Vêneto. “Ela queria morar em Vale Vêneto. Como ela dizia: ‘Minha tranquilidade, minha paz, meu chimarrão, na minha casa, no meu canto, em Vale Vêneto.’ Esse era o sonho dela, recente assim, e acho que ela já estava quase concretizando. Ela estava vendo já local, projeto, então era um sonho já muito palpável na vida dela. Também fazer a faculdade de Paisagismo. Ela me contou uma semana antes que ela ia fazer alguma coisa por ela, que ela gostava, que era a faculdade de Paisagismo, que ela iria iniciar em março, final de março, e estava empolgadíssima, já tinha comprado um livro de plantas, porque ela amava plantas. E então esse era o sonho recente que ela estava realizando: o da faculdade e o da casa em Vale Vêneto.”

Jussara diz que tem sido difícil aceitar o que aconteceu. “É como um pesadelo. A gente tenta aceitar, por ela, mas ainda é difícil. Ela tinha uma presença tão forte, tão cheia de luz, que parece que, a qualquer momento, vai voltar. Mesmo depois de termos nos despedido, ainda espero ouvir sua voz: ‘Oi, comadre! Vai passar aqui hoje?’ A ausência dela ainda não foi assimilada. A dor é grande, constante, e todos sentimos isso. Esperamos que, com o tempo, essa dor vire saudade. Mas, por enquanto, parece que ela ainda está por aqui, e que a qualquer instante vai aparecer com aquele jeitinho doce e meigo de sempre.”

A notícia do falecimento de Flavia chegou a Jussara por meio do irmão dela, que atua junto com ela na Prefeitura de Polêsine. “Quis o destino que ele estivesse perto de mim nesse momento. Almoçamos juntos, ele foi ao banheiro e voltou branco, e não conseguia se expressar. Quando me mostrou o acidente no celular, eu não estava entendendo, e ele me disse: ‘A Flávia estava nesse ônibus.’ Eu até então não sabia que ela tinha viajado. E, a partir daí, começamos a ligar e ficamos sem informações. Sabíamos que ela tinha ido na viagem, mas a universidade não confirmava nada. O irmão ligava para o celular dela e ninguém atendia. Então foi uma tarde de desespero. Passado das 18h, recebemos a confirmação do falecimento”, contou.

Colegas do banco de Faxinal do Soturno lembram com muito carinho da Flavia.

Flavia Marcuzzo Dotto iniciou sua trajetória no Banrisul em 14/12/2009, na Agência Baltazar Garcia, em Porto Alegre. Visando conciliar a sua atividade profissional com a vida pessoal, transferiu-se para a Agência de Faxinal do Soturno em 1º/03/2012. Em pouco tempo, sua competência ficou evidenciada. No mesmo ano, foi selecionada para desempenhar uma função especializada junto à Plataforma da Pessoa Jurídica de Grandes Empresas na Superintendência Fronteira, em Santa Maria, onde ficou por aproximadamente seis anos. Sempre na busca de novos desafios, transferiu-se para o atendimento da pessoa física em 2018. Pelo notável desempenho, em 2021, foi selecionada para a função de Operadora de Negócios da pessoa física, retornando para a Agência Faxinal do Soturno como responsável pelo gerenciamento de uma carteira de 650 clientes. Em 07/2022, retornou para a AG Medianeira, em Santa Maria, no desempenho da mesma função.

Marcos Cezar Roggia Ragagnin e Sandra Streppel:

“O que falar da nossa amada colega e amiga Flavia Marcuzzo Dotto? Nem todas as palavras do mundo seriam suficientes para expressar o quanto ela era especial, fora da curva, extraordinária. Só de tocar no teu nome, a voz já embarga e o peito aperta. Viveu uma vida pessoal e profissional plena, buscava descansar principalmente aos finais de semana em Vale Vêneto, onde recebia amigos e compartilhava bons momentos junto à família. Estava em um momento muito feliz da sua vida, retomando os estudos através do curso de Paisagismo — um sonho e um hobby que se concretizavam. Era uma mãe, esposa, irmã, filha e amiga exemplar, sempre pronta e preocupada em ajudar todos ao seu redor. Apaixonada por viagens, sempre organizando e pensando o próximo destino. Mulher forte, determinada e inquieta, sempre disposta a aprender e a reunir as pessoas que gostava. Deixou marcas profundas na vida de quem teve a honra de conviver contigo. Teu legado e tua energia contagiante jamais serão esquecidos. Ficam as boas lembranças e a certeza de que cumpriu sua jornada com maestria. Um exemplo a ser seguido de resiliência e empatia. Só podemos dizer que sentiremos muitas saudades... Zela por nós e pela tua família aí de cima. Você era luz, e como você sempre dizia em momentos difíceis: ‘Acalma teu coração’.”

Nilza De David Chelotti, amiga e colega da Flavia:

“É difícil colocar em palavras o que sentimos quando alguém tão especial parte. Flávia não era apenas uma colega — foi uma amiga generosa, uma presença luminosa e constante em nossas vidas. Sua partida deixa um vazio profundo, mas também uma imensa gratidão por termos compartilhado com ela tantos momentos maravilhosos, de alegria e leveza. Flavinha tinha esse dom raro de transformar o ambiente ao seu redor com um sorriso, com uma palavra de apoio, com o seu jeito acolhedor e cheio de luz. Era daquelas pessoas que escutava de verdade, que enxergava além das aparências e que sabia estar presente de forma íntegra e sincera. A sua amizade foi um presente que levaremos para sempre no coração. É impossível não sentir saudade — da sua risada, das conversas, dos abraços, da força tranquila que transmitia mesmo nos momentos difíceis. Mas escolhemos lembrar da Flávia com a ternura que ela nos ensinou: celebrando sua vida, sua coragem, sua sensibilidade e a beleza que espalhou por onde passou. Seguiremos em frente, levando um pouco da sua luz em cada gesto de carinho, em cada ato de gentileza. E guardaremos com afeto a memória de quem soube ser colega, amiga, companheira e inspiração. Obrigada, Flavia, por tudo o que você foi e continuará sendo em nós. Com amor e saudade.”



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