Aos 72 anos, Marite Fátima Giuliani da Costa se despede de uma trajetória marcada pela dedicação à dança tradicionalista e à formação de novas gerações. Seu envolvimento começou ainda jovem, na primeira Invernada de Danças do CTG Coração do Rio Grande, após convite do patrono Eusébio Roque Busanello e da professora Aracy Cervo, referência em danças tradicionais de Cruz Alta. “Dancei por muitos anos, tendo sempre bons professores, e desde o primeiro instante senti que viveria para sempre esta emoção”, lembra Marite.
Ao longo de sua trajetória, ela assumiu diversos cargos no CTG: posteira da Invernada Artística, coordenadora cultural, instrutora de danças e, por duas gestões, Patroa da entidade. “Só assumi o cargo de Patroa quando me senti preparada. Vinha observando e participando de tudo o que acontecia dentro das nossas tradições. Cada patrão que me antecedeu foi um aprendizado. O maior desafio foi coordenar tudo e, ao mesmo tempo, manter viva a essência do tradicionalismo em cada decisão.”
Além de cargos administrativos, Marite dedicou-se intensamente à formação de grupos e à transmissão de conhecimento às novas gerações. “Sempre fui uma estudiosa do tradicionalismo e das danças. Como coordenadora das Invernadas do CTG, acompanhei todos os ensinamentos dos professores e coreógrafos que por aqui passaram. Temos que estar constantemente atentos às mudanças, mas sem perder a essência do que somos.”
Ela também refletiu sobre a evolução do movimento tradicionalista. “O tradicionalismo gaúcho está em constantes mudanças. Ele busca sobreviver e florescer, adaptando práticas aos costumes atuais, mas a essência permanece: preservar e valorizar os costumes que formam a identidade do povo do Rio Grande do Sul. Quanto às danças, há sempre um processo de atualização e aprimoramento, com o Movimento Tradicionalista Gaúcho atuando como órgão normativo, equilibrando tradição e inovação, inspirando novas gerações.”
Entre suas conquistas mais marcantes, Marite destaca a Escolinha da Tradição, que leva seu nome e atualmente atende 75 alunos. “Hoje continuo trabalhando com crianças desde os 4 anos, e cada apresentação dessas invernadas é uma grande conquista. O objetivo maior do meu trabalho é ensinar respeito ao próximo e amor à cultura gaúcha. É muito gratificante ver que consegui passar esse amor que sinto pela tradição.”
A decisão de encerrar a trajetória neste ano foi tomada com reflexão. “Quando me aposentei da escola, em 2018, depois de atuar por 26 anos como diretora na Escola Adelina Zanchi, senti muita tristeza por não ter mais aquelas crianças com quem convivia todos os dias. Mas muitas delas eu passei a reencontrar nos ensaios de dança, o que era muito importante para mim. Mas este ano, sinto que a energia não é mais a mesma. É hora de passar este cargo para pessoas mais jovens. Posso até ter sido egoísta em permanecer por tantos anos sem dar oportunidade a outros de dar continuidade.”
Ao olhar para trás, ela expressa gratidão e emoção. “Sou grata a Deus, aos pais e aos alunos que conviveram comigo todos esses anos. É emocionante ver ex-alunos trazendo seus filhos para os ensaios. Sentimos o carinho e a amizade que ficaram em nossos corações. O sentimento é de dever cumprido, mas também sei que vou sofrer ao encerrar este ciclo.”
Para Marite, a dança tradicionalista é essencial. “A dança me dá vida. Ela retrata os usos e costumes do povo gaúcho, enaltece o respeito à mulher, à história e à família, e é transmitida de geração em geração. Fortalece os laços familiares, quando vejo os avós dançando com os netos. Sempre vou me lembrar daqueles que me levaram a conhecer este caminho da dança.”
Ao resumir sua trajetória, Marite destaca o legado humano e cultural. “Acredito que, em toda minha trajetória, proporcionei um ambiente acolhedor e inclusivo. Trabalhar com as diferenças sempre foi um desafio gratificante, que me fez crescer e ser uma pessoa melhor.”
Ela deixa uma mensagem final para a comunidade. “Que o orgulho de ser gaúcho nos guie sempre no caminho da tradição e da amizade. Nas invernadas mirim, não se trata apenas de reviver o passado, mas, como acentua Barboza Lessa, de resgatar do passado a esperança perdida.”