No passado, os relógios nas igrejas desempenhavam um papel central na vida cotidiana das comunidades, especialmente em uma época em que os relógios pessoais eram raros e caros. Os sinos tocavam em intervalos regulares, sinalizando as horas do dia para que as pessoas soubessem quando iniciar ou encerrar suas atividades, como o trabalho nos campos, refeições e orações. Na última semana, o relógio da Igreja Matriz São José, de Ivorá, passou por manutenção. Dauri Klein, 69 anos, de Marques de Souza, veio até o município e trabalhou para colocar o relógio em funcionamento. O relógio foi fabricado há muitos anos pelo alemão Bruno Swertner, morador de Estrela.
Foram alguns dias de trabalho até que o relógio voltasse a funcionar. O tesoureiro da comunidade, José Eduardo Donato, explicou que não lembra se o relógio havia passado por reparos completos antes. “A inauguração da torre e do relógio foi no dia 24 de janeiro de 1932, então fazem 92 anos que o relógio foi colocado. Ele faz parte do cotidiano da nossa comunidade. Nós fazíamos uma manutenção caseira, mas uma como essa que fizemos agora ainda não tinha sido feita. As pessoas nos cobravam, e, claro, antigamente ele guiava as pessoas; hoje, nem tanto, mas as pessoas têm o costume de ouvir o sino tocar. Então resolvemos, sim, deixá-lo em condições de funcionamento”, contou ele.
Dauri disse que trabalha com relógios desde os 16 anos. “Eu fiz um cursinho por correspondência, não tive oportunidade de fazer faculdade, então fiz esse curso profissionalizante de eletrônica e elétrica. Comecei com aqueles cucos de parede, que se dava corda manualmente, depois passei para relógios de pulso, mas também fazia de tudo: era pintor, ourives, soldador, projetista de móveis; aprendi de tudo nessa vida”, contou ele.
Ele começou a trabalhar com relógios de igreja quando o da comunidade onde ainda mora quebrou. “Tinha apenas uma pessoa que sabia mexer, ele adoeceu, e aí me procuraram e pediram para eu dar uma olhada. Curioso como sou, fui ver e consegui fazer funcionar. Desde então, fiquei responsável pela manutenção do relógio”, explicou.
Com o tempo, outras igrejas passaram a procurá-lo para manutenção. “Não havia ninguém que soubesse mexer nos relógios, então iam me chamando e eu conseguia consertar. Depois, as comunidades iam me indicando. Muitas igrejas, até por não terem técnicos, trocaram os relógios mecânicos por eletrônicos, mas isso não dava muito certo, principalmente pela manutenção. Um relógio mecânico, se estraga, a gente faz a peça manualmente. Já um eletrônico, com seu sistema diferente, exige muito mais. Então, aconteceu de eu ir a igrejas onde o eletrônico foi deixado de lado, e eles voltaram a usar o mecânico, no qual eu mexia e fazia funcionar”, relatou.
Na igreja de Ivorá, Dauri conta que foi feita toda a manutenção. “Desmontamos todo o relógio, lavamos as peças, remontamos, fizemos o que era necessário, e agora ele está em pleno funcionamento, à disposição da comunidade.”