A música nos inspira, é uma arte presente na rotina das pessoas. Já imaginou o mundo sem músicas? Seja para alegrar, para nos lembrar, ou para viver o luto dos momentos tristes, ela está sempre embalando nossas histórias. Conhecidos no estado, com sucessos regravados por renomados artistas, contaremos a história dos Irmãos Moro, Juares e Gilbrás. Nascidos em Rincão dos Padilhas, município de Nova Palma, eles iniciaram na música desde pequenos. Filhos de Ângelo Moro e Graciosa Delagnola Moro, produtores e pequenos pecuaristas, com idade de seis e oito anos, começaram a cantar suas primeiras músicas.
Aos 8 anos, Juares ganhou a primeira gaita de oito baixos, onde tirou as primeiras notas musicais. “Aprendi tudo sozinho, tinha gosto pelo instrumento e fui mexendo, não tem como explicar isso, certamente é dom de Deus, não tinha professor na época para ensinar”, contou Juares. Dois anos após, os pequenos irmãos, Juares com a gaita e Gilbrás com o violão, acompanhados da irmã mais velha, começaram a animar bailes em rincões. Nas folgas do serviço da lavoura, participavam de programas juvenis nas rádios São Roque, entre outras na região.
Em 1972, já tocavam em festas, bailes e reuniões dançantes com gaita e violão. Gilbrás explica que eles tinham tendência à música gaúcha, mas nos eventos tocavam bandinhas e outros estilos dançantes, o que agradava o público. “As pessoas gostavam muito de dançar, então era diversificado o nosso repertório, para agradar a todos, nós tocávamos músicas animadas, mais lentas e o povo gostava e aproveitava os bailes”, contou ele.
De acordo com Juares, em 1981, gravaram seu primeiro trabalho, na época no formato de LP, com o título “Deixa a Querência”, na gravadora Isaec, em Porto Alegre. Logo após, formaram o Conjunto Irmãos Moro & Grupo com Zé Taguara e Ciro, que juntos permaneceram por 15 anos levando a música gaúcha para toda a região do Brasil, principalmente o Rio Grande do Sul. “As músicas, na sua maioria, eram de autoria nossa, eu e meu irmão tínhamos facilidade na composição e fazíamos as músicas, mas sempre separados. Uma vez fizemos juntos um jingle de política, mas de resto cada um tinha seu jeito de compor”, lembrou Juares.
Em 1986, gravaram o segundo LP com o título de “Quem sou eu?” e, na mesma época, criaram os arranjos e fizeram o acompanhamento para o LP “Cantici Della 4ª Colônia”, cantado por Diomedes Rossato - O Bigodinho. Em 1995, participaram com quatro músicas no LP “Encontro de Amigos”, organizado pelo cantor e radialista José Luiz, de Santa Maria. A dupla também participa há mais de 40 anos cantando em missas crioulas.
Maiores ídolos na música
Juares, por tocar gaita, se inspirava em Albino Manique, falecido em 2024. “Eu ouvia ele tocar e ficava admirado pela forma com que ele fazia aquilo. Para mim, ele é o maior gaiteiro do Brasil. Quando tinha que tirar as músicas que ele fazia os arranjos, era sempre muito desafiador. Buscava fazer do melhor jeito possível para me aproximar do que ele tocava. Era um ídolo certamente”, contou ele.
Já Gilbrás disse que os Bertussi eram os maiores ídolos. Eles eram um dos mais famosos sobrenomes da cultura gaúcha, tendo Adelar e Honeyde como pioneiros da música gaúcha bailável e primeira dupla de acordeonistas a gravar discos, em 1955, deixando um legado que ultrapassa gerações. “Era muito bom de escutar eles, era neles que me inspirava para seguir cantando”, contou.
Composições
Um dos diferenciais dos Irmãos Moro era a composição. Os dois irmãos escreveram a maioria das letras, inclusive muitas delas sendo regravadas por outros artistas. Juares conta as suas principais inspirações para compor. “A música tem que emocionar, eu falava das coisas do interior, da vivência do gaúcho, buscava trazer alegria. Nunca fui de escrever besteira em letra, não achava isso certo. Vários artistas gravaram nossas músicas, inclusive o Baitaca”, contou. Gilbrás seguia a mesma linha do irmão.
Uma das músicas preferidas da dupla é “Prevendo o Futuro”, composição de Juares, que você pode conferir apontando a câmera do seu celular para o QR code. “Essa foi uma das que mais fez sucesso. Outros artistas gravaram, e o pessoal nos bailes sempre nos pedia e pede até hoje onde nos apresentamos”, contou Gilbrás.
A música como renda extra
A dupla nunca viveu exclusivamente da música. Juares lembra que eles encerravam a rotina de trabalho na semana e tocavam nas sextas-feiras, sábados e domingos. “Tínhamos nossos compromissos no trabalho, mas no final de semana nos organizávamos e íamos para a noite. Poucos locais na região que não tocamos. Era cansativo, mas estávamos felizes com o que fazíamos”.
Gilbrás salienta que a questão do dinheiro não foi prioridade, mas que os valores com os bailes contribuíram muito na vida deles. “Era uma renda extra e isso foi importante para a gente, ajudava bastante no final do mês”, contou.
Prevendo o futuro
Sobre o futuro, eles dizem seguir se apresentando, mas de forma mais cautelosa. “A gente toca por hobby. Quando nos chamam, a gente analisa e vai. Já não é algo que faz parte da nossa rotina como uma obrigação. A última apresentação nossa foi em um evento na comunidade de Pinhalzinho, onde mais de mil pessoas estiveram presentes, claro, para o jantar e também para a nossa apresentação”, disse Juares.
A importância da Rádio São Roque
Os irmãos são unânimes em agradecer à Rádio São Roque pelo espaço. “Não podemos deixar de agradecer à rádio, sempre nos deu espaço, toca as nossas músicas até hoje. Desde o começo, quando iniciamos, fomos bem recebidos, participando de programas ao vivo. Enfim, nossa gratidão à direção da Rádio São Roque, que sempre nos permitiu mostrar o nosso trabalho”, finalizou Gilbrás.