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Chuva e cheia em Caemborá: Moradores relatam destruição e esperança no recomeço

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Nova Palma 07/06/2024
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"Nunca vimos algo parecido." "Foi tão rápido." "Perdemos muitas coisas." "Temos que agradecer a Deus pela vida." "Agora é recomeçar." Com essas expressões, os moradores do distrito de Caemborá, em Nova Palma, descrevem o episódio de chuva e cheia que a comunidade vivenciou no dia 30 de abril e início de maio que ainda traz consequências.

A reportagem do Jornal Cidades do Vale percorreu os principais pontos afetados da localidade. Por toda parte, ainda há muita lama, barro, entulhos e histórias sendo contadas. Basta encontrar um morador e perguntar sobre a situação para que as lembranças de dias de terror venham à memória. Nesta reportagem, contaremos duas histórias que exemplificam a experiência dos demais moradores.

Hilmar e Normélia Streck nunca viveram algo parecido 

Os aposentados Hilmar Streck, de 84 anos, e Normélia Streck, também de 84, são casados há 54 anos. Segundo o casal, a água subiu muito rapidamente. "Começou a chover e percebemos a água subindo. Como nunca tinha chegado na casa, ficamos menos preocupados. Fiquei monitorando, e ela subindo. Quando nos demos conta, não conseguíamos mais sair, nem de trator, porque o pátio já estava todo alagado. E quando vimos, a água já estava dentro de casa. Tudo aconteceu muito rápido, não deu tempo para nada", lembrou Hilmar.

O aposentado conta que nunca tinha vivido um momento como aquele. "Senti medo. Fomos resgatados com a água já chegando à nossa cintura. Um vizinho veio com o trator e nos levou. Se não fosse isso, não sei o que teria acontecido. Sempre via na televisão as histórias das pessoas que não conseguiam sair e não entendia, mas naquele dia, vivi na pele o que é isso. É muito triste", relatou Hilmar.

Normélia descreveu as perdas na casa e no pátio. "Encheu tudo de água e barro dentro de casa. O guarda-roupa desmontou, o chão levantou todo. As galinhas foram levadas, os bichos, foi um horror. Encheu de árvores e pedras aqui na propriedade, que vieram arrastadas. É assustador", disse ela.

Questionados sobre a permanência na propriedade, Hilmar afirmou que deve ir morar em outro lugar. "Não podemos mais ficar aqui. Precisamos estar em um lugar mais seguro, com mais recursos. Estou vendo algumas possibilidades. Claro que é triste, vivi a vida toda aqui, muitos amigos. Não vai ser fácil sair, mas com a nossa idade, precisamos nos preservar", afirmou ele.

Tania e Neco Spanevello: A força da água

Na sede do distrito, os empresários Tania Spanevello e Alcedir Spanevello, o Neco, também passaram por momentos de muita angústia. Tania lembra o dia que tudo começou. "É incrível a velocidade e a força da água. Foi rápido. Quando vimos, a água estava chegando na padaria e invadindo tudo, arrebentando portas, derrubando tudo. Logo já estava no pátio da nossa casa. Nós até levantamos o que foi possível, pensamos que ia ser menos água, mas tomou conta de uma forma nunca vista", contou.

A água chegou na casa e trouxe estragos. "Perdi muita coisa, ainda não temos a noção exata de tudo. Fiquei abrigada na casa da minha filha por 12 dias. Estávamos entre nove pessoas na casa, sem água, luz, internet. Quando abaixou, vim para casa e vi que não tinha nada, nem para comer. Muito triste, a gente dono de padaria, não tinha um pedaço de pão para comer. Foi tudo com a água", relembrou Tania.

Em relação à padaria, Neco ressalta que ainda precisa contabilizar os prejuízos. "Temos fornos, motores aqui, e com a água e barro, não sabemos o quanto estão danificados. As tomadas têm que ser abertas todas, a fiação precisa ser verificada. As formas entortaram. Algumas coisas menores, como bicos de confeiteiro, se perderam no meio do barro".

Agora, o trabalho é de recomeço. "Precisamos ser fortes, enfrentar isso que nos aconteceu. Não é fácil. Vamos completar, no dia 15 de agosto, 14 anos desde que assumimos a padaria. Vamos nos reerguer, um dia de cada vez. Agradeço muito a ajuda das pessoas, tanto no dia quanto depois. Todo mundo se conhece aqui, e felizmente existe gente do bem que nos apoia. Logo teremos pão fresquinho de novo para a nossa comunidade", finalizou Tania.

 



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